sexta-feira, 17 de junho de 2016

Os Reinos Perdidos (1): O Eldorado




OS REINOS PERDIDOS

Toledo, na Espanha, é hoje uma cidade provinciana ao sul de Madri, distante apenas cerca de uma hora de carro. Ainda assim, é impossível imaginar que alguém vá à Espanha e não a visite, pois no interior de suas muralhas se encontram, preservados, monumentos de diversas culturas e lições de história. Segundo lendas locais, a sua existência remonta a dois milênios antes da era cristã, tendo sido fundada, dizem, por descendentes de Noé. O nome, muitos sustentam, vem do hebreu Toledoth (“História das Gerações”)…


Livro, OS REINOS PERDIDOS (The Lost Realms), da série de livros Crônicas da Terra, número IV, de Zecharia Sitchin
Capítulo I – O ELDORADO

… Suas casas antigas e magníficos templos são tes­temunhas da ascensão e queda dos mouros e do domínio mu­çulmano, da erradicação da esplêndida herança judaica e da catolização completa da Espanha. Para Toledo, para a Espanha e para todas as outras terras, 1492 foi um marco. Três eventos ocorridos naquele período no território espanhol, geograficamente conhecido como Ibéria — a única explicação para o nome está no termo hebraico Ibri (hebreu) pelo qual seus primitivos habitantes ficaram conhecidos —, mu­daram sua história. (n.T.- Espanha, como o país passou a se chamar após a unificação dos diferentes reinos, tem sua origem no semítico arcaico, quando os navegantes fenícios que dominavam o Mediterrâneo fundaram Cádiz em torno de 1.100 a.C.. A palavra hispânia em fenício antigo significava “lugar com muitos coelhos” Desta posição vantajosa em frente ao Oceano Atlântico, os Fenícios navegaram até as Américas (incluindo o Brasil), a costa da África e Ilhas britânicas.)
Desta posição vantajosa em frente ao Oceano Atlântico, os antigos Fenícios após fundarem um entreposto em Cádiz, navegaram até as Américas (incluindo o Brasil), a costa da África e Ilhas britânicas) e ao norte da Península Ibérica e Atlântico Norte.

Os reinos ibéricos, até então divididos e em guerra entre si, depois de terem perdido grande parte da península Ibérica para os muçulmanos, viram sua primeira chance de união quando Fernando de Aragão casou com Isabel de Castela, em 1469. No espaço de dez anos após este casamento, uma grande ofensiva foi lançada contra os mouros, unindo a Espanha sob a bandeira do catolicismo da igreja de Roma. Em janeiro de 1492, os mouros foram finalmente derrotados com a queda de Granada, e a Espanha, a partir daí, se transformou em território católico.
Dois grandes feitos, em março, o rei Fernando e a rainha Isabel assinaram um édito, determinando a expulsão das terras espanholas de todos os judeus que não se convertessem ao catolicismo até 31 de agosto daquele ano. Enquanto isso, a 3 de agosto de 1492, Cristóvão Colombo — Cristóbal Cólon para os espanhóis — par­tia de Paios, sob bandeira espanhola, decidido a encontrar uma rota ocidental marítima para as Índias.
Avistou terra a 12 de outubro de 1492. Retornou à Espanha em janeiro de 1493. Como prova de seu sucesso levava consigo quatro “índios” e, como reforço, para justificar uma nova expedição sob seu comando, ofereceu à rainha badulaques de ouro obtidos dos nativos e uma história fantástica sobre uma cidade do ouro, onde os habitantes usariam braceletes e adornos de ouro, sendo o metal precioso encontrado em uma mina próxima à cidade.
Do primeiro estoque de ouro proveniente das novas terras desembarcado na Espanha, Isabel — tão religiosa que foi cha­mada “a Católica” — ordenou que fosse elaborada uma Custódia (objeto para expor a hóstia consagrada) para a Catedral de To­ledo, depositária, então, da tradicional hierarquia católica espa­nhola. Assim, hoje, um visitante que entrar na Catedral de Toledo para admirar seu tesouro — objetos preciosos doados à Igreja através dos séculos e conservados numa sala protegida por  grossas gra­des de metal — pode ver, embora sem tocar, o primeiro ouro levado por Colombo das Américas para a Europa.
Atualmente, os historiadores admitem que havia muito mais naquela viagem, além da mera busca de uma nova rota para as índias. Há fortes evidências de que Colombo era um judeu (de origem portuguesa) que fora forçado a se converter ao catolicismo romano, enquanto seus financiadores, apesar de convertidos, estariam interessados, na verdade, em novas terras mais livres. Fernando e Isabel, por seu lado, haviam tido visões da descoberta dos rios do Paraíso e das fontes da eterna juventude. O próprio Colombo alimentava ambições secretas, al­gumas das quais chegou a exprimir em seus diários pessoais. Via a si mesmo como o realizador de antigas profecias, que fa­lavam em uma nova era a se iniciar com a descoberta de novos mundos “na extremidade da Terra”.
Porém, ele era suficientemente realista para perceber que de todas as informações de sua primeira viagem, a que mais chamara a atenção fora a referente ao ouro. Dizendo que o “Senhor iria mostrar” o enigmático lugar “de onde vinha o ouro”, ele persuadiu Fernando e Isabel a lhe fornecer uma frota muito maior para a sua segunda viagem e, depois, mais uma para a terceira. A essa altura, no entanto, os monarcas espanhóis enviaram, por sua conta, para as novas terras, vários administradores, conhecidos não como ho­mens de visão, mas como homens de ação, que passaram a super­visionar e a interferir nas operações e decisões de Colombo.
Os conflitos inevitáveis culminaram com o retorno do navegador à Espanha, acorrentado, sob o pretexto de que maltratara alguns de seus homens. Embora o rei e a rainha o libertassem de imediato, oferecendo-lhe dinheiro como compensação, concordavam com a opinião de que ele era um bom navegador, mas um mau governador — e claramente do tipo que não conseguiria forçar os indígenas a mostrar a verdadeira localização da cidade do ouro.
Colombo rebateu a todos, expressando maior confiança nas antigas profecias e citações bíblicas. Reuniu todos os textos num livro — O Livro das Profecias — que ofereceu de presente ao rei e à rainha. Pretendia, assim, convencê-los de que a Espanha es­tava predestinada a reinar sobre Jerusalém e que ele, Colombo, era o escolhido para executar essa tarefa, sendo o primeiro a encontrar o lugar de onde o ouro provinha.

Em 3 de agosto de 1492, Cristóvão Colombo — Cristóbal Cólon para os espanhóis — par­tia de Paios, sob bandeira espanhola, decidido a encontrar uma rota ocidental marítima para as Índias

Fernando e Isabel concordaram em deixar Colombo navegar mais uma vez, convencidos especialmente pelo argumento de que a foz do rio por ele descoberto — conhecido agora por Orenoco — era um dos quatro rios do Paraíso e, como as Escri­turas afirmavam, um desses rios englobava a terra de Havilah, “de onde veio o ouro” para a Terra. Essa última viagem, no entanto, foi fonte de maiores vicissitudes e desavenças do que as outras três.
Deformado pela artrite e transformado num espectro do ho­mem que fora, Colombo voltou à Espanha a 7 de novembro de 1504, poucos dias antes do falecimento da rainha Isabel. O rei Fernando, embora apreciasse Colombo, decidiu entregar a outros a tarefa de estudar o manuscrito por ele preparado sobre as evi­dências da presença de ouro nas terras recém-descobertas.
“Hispaniola suprirá vossas invencíveis majestades com todo o ouro necessário”, assegurou Colombo aos financiadores reais, referindo-se à ilha hoje partilhada pelo Haiti e a República Domi­nicana. Lá, colonos espanhóis, utilizando indígenas como mão-de-obra escrava, foram bem sucedidos na mineração de fabulosas quantidades de ouro. Em menos de duas décadas o Tesouro da Espanha recebeu ouro de Hispaniola equivalente a 500.000 ducados (n.T. Em apenas 20 anos foram 1.750 quilos de ouro. Um ducado tinha 3,5 gramas de ouro a 0,986 de pureza.).
A experiência dos conquistadores em Hispaniola iria se repetir muitas vezes ao longo do imenso continente. As jazidas recém-descobertas, porém, no curto espaço de duas décadas, haviam sido exauridas. Os nativos tinham morrido ou fugido e a euforia dos espanhóis tinha se transformado em desapontamento e de­sespero. Por isso, foram ficando cada vez mais audaciosos, aven­turando-se por costas novas e desconhecidas em busca de rique­zas. Um desses pontos de desembarque foi a península do Yucatán, no México (a terra dos antigos Maias, Aztecas, Olmecas e Toltecas). Os primeiros espanhóis a conhecer o local foram os sobreviventes de um naufrágio, em 1511. Em 1517 um comboio de três navios sob o comando de Francisco Hernandez de Córdoba já partia de Cuba para o Yucatán, com o propósito de encontrar mão-de-obra escrava. Para seu enorme espanto, os espanhóis se depararam com edifícios de pedra, templos e ídolos de deuses; para desgraça dos habitantes nativos (que os espanhóis entenderam chamar-se “Maia”) encontraram também “certos objetos de ouro, que tomaram.”
O registro da chegada espanhola e da conquista do Yucatán está baseado principalmente no relato de frei Diego de Landa, de 1566, Relación de Las cosas de Yucatán (traduzido por William Gates para o inglês com o título de Yucatán, Before and After the Conquest -“Yucatán, Antes e Depois da Conquista”- espanhola). Hernandez e seus homens, afirma Diego de Landa, descobriram nessa ex­pedição uma grande pirâmide em degraus, ídolos, estátuas de animais e uma enorme cidade no interior.
Entretanto, os índios que eles tentaram capturar reagiram de forma violeta, não se detendo nem mesmo diante dos canhões dos navios. As grandes baixas espanholas — o próprio Hernandez foi gravemente ferido — força­ram-nos a retirada. Apesar disso, em sua volta para Cuba, Her­nandez recomendou a realização de novas expedições, pois “aquela terra era boa e rica em virtude do seu ouro”.
Um ano mais tarde, outra expedição partiu de Cuba com destino à península do Yucatán. Os espanhóis aportaram na ilha de Cozumel e descobriram territórios a que deram o nome de Nova Espanha, Pánuco, Tabasco. Armados com uma grande variedade de bens para negociar e não apenas com armas, eles encontraram não só índios hostis, mas também amigáveis. Examinaram alguns monumentos e edifícios, sentiram a picada das flechas e lanças, cuja ponta ostentava afiadas lascas de pedra obsidiana, e manusearam objetos artísticos. Muitos eram feitos de pedra comum ou semi-pre­ciosa; outros brilhavam como ouro, mas num exame mais apurado descobriram tratar-se de cobre. Havia, contrariamente à expectativa geral, poucos objetos de ouro e nenhuma mina, ou outra fonte de ouro ou de outros metais, na região. Nesse caso, onde conseguiam o ouro? No comércio, afirmaram os maias. O metal vinha do No­roeste: na terra dos astecas, era comum e abundante.
A descoberta e conquista do reino dos astecas, no planalto central do hoje México, está ligada historicamente ao nome de Hernan Cortez. Em 1519 ele zarpou de Cuba, comandando uma verdadeira armada de onze navios, seiscentos homens, e um grande número dos então raros e valiosos cavalos. Parando, desem­barcando e embarcando, ele progrediu lentamente pela costa do Yucatán. Na área onde a influência dos maias terminava e co­meçava a dos astecas, estabeleceu uma base de operações, batizando-a de Veracruz (até hoje a cidade que surgiu deste posto leva este nome).

O arisco pássaro Quetzal.

Foi lá que os espanhóis, com grande espanto, receberam a visita dos emissários do governante asteca, oferecendo saudações e pre­sentes exóticos. Segundo uma testemunha ocular, Bernal Díaz del Castillo (Historia verdadera de La conquista de La Nueva Espanã – “A Verdadeira História da Conquista da Nova Espanha”, traduzido para o inglês por A.P. Maudslay), os presentes incluíam “uma roda como o sol, tão grande como a roda de um carro, com muitas gravuras, todas em ouro, uma coisa magnífica de se contemplar e muito valiosa”; outra roda, ainda maior, “feita de prata muito brilhante, numa imitação da lua“; um chapéu cheio até a borda com grãos de ouro; um cocar feito com as plumas de um pássaro raro, o quetzal (relíquia que está no museu Völkerkunde de Viena).
Eram presentes, explicaram os emissários, de seu soberano Montezuma para o divino Quetzalcoatl (a Serpente Emplumada, deus dos astecas), um grande benfeitor que fora forçado há muitos anos, pelo Deus da Guerra, a deixar a terra dos astecas; com um bando de seguidores rumara para o Yucatán e navegara para o leste, prometendo voltar no ano “l Junco”. No calendário asteca, o ciclo de anos se completa a cada 52 anos. No calendário católico corresponderia aos anos 1363, 1415, 1467, 1519, precisa­mente o ano em que Cortez apareceu nas águas do leste, às portas do domínio asteca. Barbado, com cavalos, um animal desconhecido dos aztecas, e usando capacete como Quetzalcoatl (alguns sustentavam que o deus tinha pele clara), Cortez parecia encaixar-se perfeitamente nas profecias.
Os presentes oferecidos pelo soberano asteca não tinham sido escolhidos ao acaso. Ao contrário, estavam repletos de simbolismos. A quantidade de ouro em grão fora oferecida porque o ouro era considerado um metal divino, pertencente aos deuses. O disco de prata, representando a lua, fora incluído porque a lenda rezava que Quetzalcoatl velejara em direção aos céus, fazendo da lua a sua casa.
O capacete emplumado e as vestimentas ricamente ador­nadas eram para o “deus” colocar. O disco dourado era um calen­dário (Maia, o Tzolkin) sagrado, representando o ciclo (n.T. De sincronização entre os dois principais calendários maia, o Haab de 365 dias e o Tzolkin de 260 dias, que levava 52 anos para acontecer) de 52 anos e indicando o ano do retorno. Sabemos disso porque descobrimos muitos iguais, feitos de pedra, em vez de ouro puro.
Se os espanhóis perceberam ou não o simbolismo, não ficou nos registros. Se perceberam, não o respeitaram. Para eles os objetos significavam a prova da existência de riquezas no reino dos astecas. Esses objetos insubstituíveis estavam entre os tesou­ros de arte mexicana que chegaram a Sevilha em 9 de dezembro de 1519, a bordo do primeiro navio com ouro enviado por Cortez. O rei espanhol Carlos I, neto de Fernando e soberano de outras terras europeias como Imperador Carlos V do Sagrado Império (católico) Romano, estava então em Flandres e o navio foi enviado a Bru­xelas.

tzolkin-hunab-ku

O disco dourado era um calen­dário (Maia, o Tzolkin) sagrado.
O tesouro incluía presentes simbólicos, estatuetas de ani­mais como patos, cachorros, tigres, leões, macacos, um arco e flechas de ouro. Porém, suplantando todas as outras peças estava o “disco do sol”, com dois metros de diâmetro, com espessura de quatro moedas reais. O grande pintor e artista Albrecht Dürer, que viu o tesouro chegado da “Nova Terra do Ouro”, referiu-se a ele dizendo:
“aquelas coisas eram tão preciosas que foram ava­liadas em 100 000 florins; eu nunca tinha visto coisas que ale­grassem tanto o meu coração como aquelas; eram objetos artís­ticos surpreendentes e maravilhei-me com a ingenuidade dos homens naquelas terras distantes; na verdade, minhas palavras não conseguem descrever o que estava na minha frente”.
Para o rei, porém, qualquer que fosse o valor artístico, religioso, cultural ou histórico “daquelas coisas”, elas significavam, acima de tudo, apenas ouro — o metal que poderia financiar suas lutas internas e externas. Sem perda de tempo, Carlos ordenou que todos os objetos de metais preciosos fossem derretidos e transformados em lingotes de ouro e prata.
No México, Cortez e seus homens adotaram a mesma atitude. Avançando lentamente e superando a resistência, fosse pela força superior de armas, ou pela diplomacia e traição, os espanhóis chegaram à capital asteca, TENOCHTITLAN (*) — hoje Cidade do México (a capital do país) — em novembro de 1519. A cidade, localizada no meio de um lago, só podia ser alcançada por estradas elevadas, facilmente defensáveis. Ainda assim, influenciados pelas predições do “Deus que retorna”, Montezuma e todos os nobres astecas saíram para receber Cortez e sua comitiva. Apenas Montezuma usava sandálias; todos os outros estavam descalços, humilhando-se perante o deus branco. O chefe asteca acolheu os espanhóis em seu magnífico palácio.

{(*) TENOCHTITLAN: Em destaque se observa o nome bíblico de ENOCH inserido no nome da capital e maior cidade dos Aztecas, TENOCHTITLAN. No primeiro livro da Bíblia, o Gênesis, capítulo 4, versículos 16 e 17 depois que Caim matou Abel lemos: 
E saiu Caim de diante da face do Senhor, e habitou na terra de Nod, do lado oriental do Éden. E conheceu Caim a sua mulher, e ela concebeu, e deu à luz a Enoch; e Caim edificou uma cidade, e chamou o nome da cidade conforme o nome de seu filho Enoque“. Gênesis 4:16-17

Tenochtitlan, na antiga língua azteca queria dizer exatamente a mesma coisa: Cidade de Enoch !!}
Havia ouro por todos os lados, até mesmo os talheres eram feitos de ouro. Os astecas mostraram aos espanhóis um depósito cheio de objetos de ouro. Utilizando um estratage­ma, eles pegaram Montezuma e o mantiveram preso em seus aposentos; para libertá-lo exigiram um resgate em ouro. Os no­bres astecas enviaram emissários por todo o reino para recolher o resgate; os objetos de ouro assim conseguidos foram suficientes para encher um galeão, que zarpou para a Espanha (esse navio foi aprisionado pêlos franceses, causando a deflagração de uma guerra.)


Os Maias e sua civilização.
Obtendo mais ouro através de esperteza, e enfraquecendo os astecas ao semear a dissidência entre eles, Cortez planejava libertar Montezuma e mantê-lo no trono como um marionete. Porém, seu segundo comandante perdeu a paciência e ordenou um massacre de nobres e chefes astecas. Na confusão que se seguiu, Montezuma foi morto e os espanhóis tiveram de enfrentar uma verdadeira guerra. Com grandes perdas, Cortez retirou-se da cidade. Retornou mais tarde com pesados reforços de Cuba. Depois de uma campanha prolongada, conseguiu dominá-la em agosto de 1521. Ao entrar na cidade impôs a lei espanhola aos astecas: o ouro foi retirado, saqueado e transformado em lingotes.
O México, na época da conquista, representou mesmo uma Nova Terra do Ouro. Porém, depois da retirada de todos os objetos de ouro, acumulados pêlos astecas durante séculos, talvez milênios, ficou claro que aquela não era a terra bíblica de Havilah e Tenochtitlán ainda não era a lendária cidade do ouro. Como nem aventureiros nem reis estavam dispostos a desistir, a busca continuou, voltando-se para outras partes do Novo Mundo.
Os espanhóis já haviam estabelecido uma base no Panamá, na costa atlântica da América e dali enviavam expedições para a América Central e América do Sul. Foi lá que ouviram a tentadora lenda do “El Dorado”, forma abreviada de el hombre dorado (“o homem dourado”). Este homem teria sido o rei de uma cidade tão rica, que todas as manhãs era untado com uma resina, ou óleo, sobre a qual era espalhado ouro em pó, cobrindo-o da cabeça aos pés; à noite ele se banhava num lago para retirar todo o ouro e o óleo. No dia seguinte recomeçava o ritual. Seu reino ficava no meio de um lago, numa ilha de ouro.
Segundo a crônica Elejias de Varones Ilustres de índias (Prefe­rências de Ilustres Cidadãos das índias), a primeira menção con­creta ao Eldorado foi feita a Francisco Pizarro no Panamá por um de seus capitães. Sua versão foi a seguinte: um nativo da Colômbia ouvira falar de “um país rico em esmeraldas e ouro, cujo rei, despido, era levado em uma jangada até o meio do lago para fazer ablações aos deuses; sua forma majestática era asper­gida com óleo perfumado, desde as solas dos pés até o alto da testa, tornando-o resplandecente como o brilho do sol”. O ritual era assistido por muitos peregrinos, “que faziam ricas oferendas votivas, como amuletos de ouro e esmeraldas raras e outros or­namentos, atirando-os no lago sagrado”.
Outra versão, sugerindo que o lago sagrado ficava em algum lugar ao norte da Colômbia, colocava o rei dourado carregando uma “grande quantidade de ouro e esmeraldas” para o centro do lago. Lá, agindo como emissário das multidões, que ficavam gritando e tocando instrumentos musicais ao redor do lago, ele atirava o tesouro às águas como oferenda para seu deus. Outra versão, ainda, dava o nome de Manoa à cidade dourada, e si­tuava-a na terra de BiruPeru para os espanhóis.
Os comentários sobre o Eldorado espalharam-se como fogo em mato seco entre os espanhóis do Novo Mundo. Com o tempo, chegaram à Europa. Os relatos boca a boca rapidamente se transformaram em panfletos e livros. Eles começaram a circular pela Europa, descrevendo a terra, o lago, a cidade, o rei, mesmo se ninguém ainda o tivesse visto, e até mesmo o rito de douração do rei a cada manhã.
Enquanto muitos seguiram direção aleatória, como Cortez, que partiu em direção à Califórnia, e outros que viajaram até a Ve­nezuela, Francisco Pizarro e seus tenentes se basearam, exclusi­vamente, nos relatos dos nativos. Alguns foram para a Colômbia e limitaram suas buscas ao Lago Guatavita — esta busca conti­nuou por quatro séculos, rendendo objetos votivos de ouro, o que convenceu as gerações seguintes de caçadores de tesouros da vantagem de drenar o lago completamente para recuperar as riquezas do fundo.

Lago Guatavita, na Colômbia

Outros, como o próprio Pizarro, acreditaram ser o Peru a lo­calização correta. Duas expedições partiram do Panamá para a América do Sul, seguindo pela costa do Pacífico. A quantidade de objetos de ouro encontrada foi suficiente para convencê-los de que valeria a pena uma expedição maior ao Peru. Depois de obter permissão real para essa empreitada e garantir o título de Capitão Geral e Governador da terra a ser conquistada, Pizarro zarpou para o Peru, chefiando duzentos homens.  O ano era 1530.
 Como ele esperava com uma força tão pequena conquistar um grande país, protegido por milhares de súditos leais ao seu senhor supremo, o INCA, a quem consideravam a personificação de um deus? O plano de Pizarro era repetir a estratégia empre­gada por Cortez: atrair o rei, prendê-lo, obter ouro como resgate, depois soltá-lo para transformá-lo em títere dos espanhóis.
O fato de os incas, como o próprio povo se chamava, estarem envolvidos numa guerra civil quando os espanhóis chegaram, foi uma surpresa inesperada. Os conquistadores descobriram que, após a morte do inca Supremo, seu primogênito por parte de uma “segunda esposa” desafiara a legitimidade da sucessão pelo filho nascido da esposa oficial. Quando a notícia de que os espanhóis avançavam chegou até o filho desafiante — Atahualpa — ele decidiu deixá-los seguir em frente por terra, distanciando-os, assim, dos seus navios e dos possíveis reforços.
Enquanto isso, Atahualpa ocupava a capital, Cuzco, Ao encontrar a maior cidade dos Andes na época (Cajamarca) os espanhóis enviaram ao seu chefe, Atahualpa, emissários com presentes, prometendo paz. Sugeriram que os dois líderes se encontrassem na praça da cidade, desarmados e sem escolta militar, como demonstração de boa vontade. Atahualpa concordou. Porém, quando chegou à praça, os espanhóis o atacaram e aprisionaram.
Para libertá-lo, pediram um resgate: um aposento grande cheio de ouro até onde pudesse alcançar a mão de um homem esticada na direção do teto. Atahualpa compreendeu que aquilo signifi­cava encher a sala com objetos de ouro e concordou. Sob suas ordens, foram trazidos dos templos e palácios utensílios de ouro — taças, cântaros, bandejas, vasos de todos os tipos e tamanhos — além de ornamentos, entre os quais imitações de animais e plantas, placas que se alinhavam nas paredes dos edifícios públicos. Durante semanas, os tesouros dos incas foram sendo acu­mulados no aposento. Mas os espanhóis reclamaram que o com­binado fora encher a sala com ouro sólido, não na forma de objetos que ocupavam mais espaço. Durante cerca de um mês, os ourives incas trabalharam para derreter e transformar todos os objetos artísticos em lingotes.
Como se a história insistisse em se repetir, o destino de Atahualpa foi exatamente o mesmo de Montezuma. Pizarro preten­dia libertá-lo para representar o papel de rei em nome da Espa­nha. Porém, os zelosos oficiais e os representantes da Igreja, num julgamento forjado, condenaram Atahualpa à morte por crime de idolatria e pelo assassinato de seu meio-irmão e rival na luta pelo trono.
O resgate obtido pelo rei inca, segundo uma das crônicas da épo­ca, foi o equivalente a 1.326.539 pesos de oro — cerca de 5.670 quilos — uma riqueza que foi rapidamente dividida entre Pizarro e seus homens, depois de separado o quinto do rei. Contudo, apesar da quantidade de ouro distribuída a cada um estar bem acima dos seus sonhos, não era nada comparada ao que estava para vir.
Quando os conquistadores entraram na capital, Cuzco, viram templos e palácios literalmente cobertos e repletos de ouro. No palácio real havia três aposentos cheios de objetos de ouro e cinco com prata, além de cerca de 100 000 lingotes do precioso metal, com cerca de 2,2 quilos cada um, Aguardando para serem transformados em objetos de arte. O trono de ouro, com uma banqueta de ouro, projetado de forma a converter-se numa liteira, onde o rei se reclinava, pesava 25.000 pesos (cerca de 110 quilos); até mesmo as hastes eram cobertas de ouro. Por toda a parte havia capelas e câmaras mortuárias para honrar ancestrais, cheias de estatuetas e imagens de pássaros, peixes, pequenos animais, brincos e co­lares.
No grande templo (que os espanhóis denominaram Templo do Sol) as paredes eram cobertas com pesadas placas de ouro. O jardim era artificial, e tudo nele — árvores, arbustos, flores, pás­saros, uma fonte — era feito de ouro. No pátio havia um milharal, onde cada planta era feita de prata, e as espigas de ouro; trata­va-se de uma área com cerca de 300 por 600 pés — 180 000 pés (60 mil metros) quadrados de milho de ouro!

Os Incas, mais uma civilização destruída pelos espanhóis.

No Peru, os conquistadores espanhóis viram as fáceis vitórias iniciais transformarem-se em rebeliões incas difíceis de controlar e a enorme riqueza dar lugar a uma espécie de inflação. Para os incas, assim como para os astecas, o ouro era um presente, ou propriedade dos deuses, não um meio de troca. Nunca o utilizaram em substituição ao dinheiro. Para os espanhóis, o ouro era uma forma de realizar todos os desejos e sonhos. Cheios de ouro, mas sem as comodidades da terra natal para usufruir, e mesmo sem as coisas básicas para atender as necessidades diárias, logo estavam pagando 60 pesos de ouro por uma garrafa de vinho, 100 por um manto, 10.000 por um cavalo.
Porém, ao regressar à Europa carregados de ouro, prata e pe­dras preciosas, aumentavam a cobiça e encorajavam as especu­lações em torno de Eldorado. Não importava quantas riquezas chegassem, permanecia a convicção de que o Eldorado ainda não fora encontrado e que alguém poderia encontrá-lo se tivesse sorte, persistência e interpretasse corretamente as pistas fornecidas pêlos nativos e pêlos mapas enigmáticos. Exploradores alemães estavam convencidos de que a cidade do ouro poderia ser encon­trada nas cabeceiras do rio Orenoco, na Venezuela, ou na Colômbia.
Outros acreditavam que o rio deveria ser outro, talvez o Ama­zonas, no Brasil. Provavelmente, o mais romântico de todos tenha sido Sir Walter Raleigh, que velejou de Plymouth em 1595 para encontrar a lendária Manoa e adicionar sua glória em ouro ao tesouro da Rainha Elisabeth. Em sua visão, ele viu Manoa como El Dorado imperial, dos telhados de ouro! 
“Sombras às quais — a despeito de todos os choques da mudança, de todos os acidentes caprichosos — Os homens se agarram com esperança e desejo de que não hão de terminar.” 
Ele, como outros antes e depois dele, ainda viam Eldorado — o rei, a cidade, a terra — como um sonho a ser realizado, “com esperança e desejo que não hão de terminar”. Todos os que saíram em busca do Eldorado representaram mais um elo na cadeia iniciada antes dos faraós e que continua em nossos dias, nas alianças de ouro e nas reservas nacionais. Ainda assim, foram esses sonhadores, esses aventureiros, em sua procura pelo ouro, que revelaram ao homem ocidental os povos e civilizações desconhecidos das Américas.
Portanto, sem o saber, restabeleceram as ligações que existiram em tempos re­motos. Por que a busca do Eldorado continuou por tanto tempo, mes­mo depois da descoberta dos incríveis tesouros em ouro e prata do México e do Peru, para não mencionar as terras menos saqueadas? A busca constante e intensa pode ser atribuída em grande parte à convicção de que a fonte daquelas riquezas ainda não havia sido encontrada.
Os espanhóis interrogaram exaustivamente os nativos sobre a fonte dos tesouros acumulados, seguindo todas as pistas. Logo ficou claro que as ilhas do Caribe e a península do Yucatán não eram produtoras de ouro: os maias diziam que conseguiam o metal no comércio com seus vizinhos do sul e do oeste e que haviam aprendido a arte da ourivesaria com os primeiros habi­tantes da região, identificados pêlos historiadores de hoje como toltecas. Certo, disseram os espanhóis, mas de onde os outros tiravam o ouro? Os deuses o forneciam, responderam os maias. Na língua local, o ouro era chamado teocuitlatl, significando li­teralmente “a excreção” dos deuses, seu suor e lágrimas.
Na capital asteca os espanhóis aprenderam que o ouro, de fato, era o metal dos deuses e seu roubo caracterizava uma ofensa mortal. Os astecas também apontaram os toltecas como os pro­fessores da arte da ourivesaria. E quem ensinara aos toltecas? O grande deus Quetzalcoatl, responderam os astecas. Cortez, em seus relatórios para o rei da Espanha, diz que interrogara Montezuma intensamente. Ele revelara que o ouro vinha de três áreas de seu reino: uma na costa do Pacífico, outra às margens do golfo, e outra a Sudoeste, onde ficavam as minas.
Cortez enviou homens para investigar os locais apontados. Nos três locais des­cobriu que os nativos, na verdade, obtinham o ouro nos leitos dos rios, ou coletando pepitas onde as chuvas as haviam deixado à flor da terra. No local onde deveriam existir minas, elas pare­ciam ter sido exploradas no passado. Os nativos encontrados pêlos espanhóis não estavam trabalhando nas minas. “Não havia minas ativas”, escreveu Cortez em seu relatório. “As pepitas são encontradas na superfície; a fonte principal é a areia dos leitos dos rios; o ouro, guardado em pó em pequenos tubos ou saqui­nhos, depois de derretido em pequenas panelas é transformado em barras”. Uma vez trabalhado, era enviado à capital para ser devolvido aos deuses, a quem o ouro sempre pertencera.

Jangada Muisca, uma representação da Iniciação de um Zipa no lago de Guatavita, possível fonte da lenda do El Dorado. Ele foi encontrado em uma caverna em Pasca, Colômbia, em 1856, juntamente com muitos outros objetos de ouro. Ela tem 19,5 cm de comprimento, 10,1 cm de largura e 10,2 cm de altura. Datados entre 1200 e 1500 aC. É feito de uma liga de ouro (80%), de prata e de cobre, utilizando o método de cera perdida. O cacique no centro está rodeado por atendentes e remadores. 

Embora a maior parte dos especialistas em mineração e me­talurgia tenha acreditado nas conclusões de Cortez, de que os astecas faziam apenas a coleta do ouro (juntando as pepitas e a poeira na superfície) e não a mineração, envolvendo a abertura de poços e túneis nas encostas das montanhas, a questão está longe de ter sido resolvida. Os conquistadores e engenheiros de mineração, através dos séculos, falaram insistentemente na exis­tência de minas pré-históricas em vários locais do México. Parece inconcebível que os primeiros habitantes da região — como os toltecas, vivendo ali desde alguns séculos antes da era cristã — fossem detentores de uma tecnologia avançada de mineração, ou até mais adiantada que a dos astecas.
Assim, as pretensas “minas pré-históricas” foram descartadas pelos pesquisadores como velhos poços abertos e abandonados pelos próprios con­quistadores espanhóis. Expressando a opinião moderna sobre o assunto, Alexander Del Mar (A History of the Precious Metals –“História dos Metais Preciosos”) afirma: “em relação à mineração pré-histórica, deve ser lembrado que os astecas não conheciam o ferro, portanto a mineração subterrânea… está praticamente fora de questão; é verdade que exploradores modernos encon­traram no México velhos túneis e evidências de trabalhos de mineração, indicando um cenário de mineração pré-histórica”. Embora tais relatórios tenham sido publicados com chancela ofi­cial, Del Mar acreditava que os sítios eram “antigos trabalhos combinados com atividade vulcânica, ou com depósitos de lava e alcatrão, ambos servindo como evidências de grande antigui­dade”. “Esta inferência”, conclui ele, “dificilmente é garantida”.
Isso, entretanto, não corresponde aos relatos dos próprios as­tecas. Eles atribuíam a seus antecessores, os toltecas, não só a técnica, como o conhecimento de minas ocultas de ouro e a ha­bilidade de retirá-lo de montanhas de pedra. O manuscrito asteca conhecido como Códice Matritense de Ia Real Academia (vol.8), tra­duzido por Miguel León-Portilla (Aztec Thought and Culture – “O Pensamento e a Cultura dos Astecas”) descreve assim os toltecas:
“Os toltecas eram um povo engenhoso; todos os seus tra­balhos eram exatos, bem feitos e admiráveis… Pintores, escul­tores, lapidadores de pedras preciosas, artistas com a pena, ceramistas, fiandeiros, tecelões, habilidosos em tudo o que fa­ziam. Descobriram as preciosas pedras verdes, as turquesas; conheciam a turquesa e suas minas. Encontraram essas minas e o esconderijo nas montanhas do ouro e da prata, do cobre, do estanho, e do metal da lua”. Os toltecas, como concordam a maior parte dos historiadores, chegaram ao planalto central do México antes da era cristã, pelo menos mil anos, talvez quinhentos anos, antes do surgimento dos astecas. Como era possível que conhecessem mineração, exploração do ouro, de outros metais, extração de pedras preciosas, como as turquesas, em lugares onde os seus seguidores — os astecas — só conseguiram encontrar pepitas na superfície? E quem en­sinara aos toltecas os segredos da mineração? A resposta, como já vimos, era Quetzalcoatl, o deus da Ser­pente Emplumada.
O mistério dos tesouros acumulados e da limitada habilidade dos astecas para obtê-los repetiram-se na terra dos incas.
No Peru, assim como no México, os nativos conseguiam ouro, coletando grãos e pepitas rolados das montanhas para os leitos dos rios. Porém, a quantidade acumulada através desses métodos não explicava o imenso tesouro encontrado com os incas. A enor­midade deste tesouro fica bem clara nos registros espanhóis man­tidos em Sevilha, o porto oficial de entrada das riquezas do Novo Mundo. Os Arquivos das índias — ainda disponíveis — guardam recibos que indicam que nos cinco anos, entre 1521 e 1525, as riquezas somaram 134.000 pesos de oro. Nos cinco anos seguintes (a pilhagem do México!) subiram para espantosos 1038 000 pesos. De 1531 a 1535, quando os carregamentos do Peru começaram a chegar, a quantidade de ouro aumentou para l 650 000 pesos. Durante o período de 1536 a 1540, época em que o Peru se transformou em fonte principal, já subira para 3 937 000 pesos; e na década iniciada em 1550 chegou a quase 11.000.000 pesos.
Um dos cronistas mais importantes da época, Pedro de Cieza de León (Chronides of Peru – “Crônicas do Peru”), relatou que, após a conquista, os espanhóis “extraíram” do império inca, anualmente, 15 000 arrobas de ouro e 50 000 de prata, o equi­valente a cerca de 170 toneladas de ouro e 567 de prata, anual­mente. Embora Cieza de León não mencione quanto tempo durou esta fabulosa “extração” de metais preciosos, seus números mos­tram a enormidade de riquezas que os espanhóis foram capazes de amealhar nas terras dos incas.
Foi o professor norte-americano Hiram Bingham quem, à frente de uma expedição da Universidade de Yale, redescobriu e apresentou ao mundo Machu Picchu em 24 de julho de 1911. Ao penetrar pelo cânion do rio Urubamba, Bingham, no desolado sítio de Mandorbamba, recebeu do camponês Melchor Arteaga o relato que no alto de cerro Machu Picchu existiam abundantes ruínas.Enquanto inspecionava as ruínas, Bingham, assombrado, anotou em seu diário: Acreditará alguém no que encontrei?

As crônicas relatam, ainda, que depois do volumoso resgate obtido pela prisão de Atahualpa, da pilhagem das riquezas de Cuzco, do desmanche de um templo sagrado na costa, em Pa-chácamac, os espanhóis se tornaram especialistas em “extrair” ouro das regiões incas. Os palácios e templos dos incas eram ricamente decorados com ouro. Seus túmulos eram cheios de objetos de ouro.
Os conquistadores logo perceberam o costume local de fechar a residência dos nobres e governantes, deixando dentro seus corpos mumificados, cercados pelos objetos preciosos que haviam possuído em vida. Os espanhóis também suspeita­ram, corretamente, que os nativos haviam carregado tesouros para esconderijos; alguns foram colocados em cavernas, outros atirados aos lagos. E lá estavam as huacas, locais venerados e separados para adoração e para uso divino, onde o ouro era empilhado e deixado à disposição de seus donos verdadeiros, os deuses.
Histórias de tesouros encontrados, freqüentemente obtidos pela tortura de nativos para que revelassem tais locais, permeiam os re­gistros dos cinqüenta anos seguintes às conquistas e até mesmo dos séculos 17 e 18. Foi dessa forma que Gonzalo Pizarro encontrou o tesouro escondido de um chefe inca de um século antes. Um certo Garcia Gutiérrez de Toledo também encontrou o esconderijo de te­souros sagrados, de onde foram “extraídos” 1000 000 de pesos em ouro, entre 1566 e 1592. Em 1602, Escobar Corchuelo retirou da huaca “La Tosca”, objetos avaliados em 60 000 pesos. E quando as águas do rio Moche foram desviadas, um tesouro valendo 600 000 pesos foi encontrado, incluindo, como relatou o cronista, “um grande ídolo de ouro.”
Relatos de um século e meio atrás — mais perto dos acontecimentos, portanto, do que os atuais — de dois exploradores, M. A. Ribero e J.J. von Tschudi (Peruvian Antiquities – “Antigui­dades Peruanas”), descrevem assim a situação: Na segunda me­tade do século XVI, no curto espaço de vinte e cinco anos, os espanhóis exportaram do Peru para a Espanha mais de quatro milhões de ducados de ouro e prata. Temos certeza de que nove décimos disso era resultante de pilhagem. Nesse cálculo não con­sideramos a quantidade de metais preciosos enterrados pelos nativos para escondê-los da cobiça dos conquistadores, como a famosa corrente de ouro (segundo relatos, teria 213 metros de comprimento e a grossura do pulso de um homem) que o chefe inca Huayna Capac mandou fazer para comemorar o nascimento de seu filho primogênito, Inti Cusi Huallapa Huáscar, e que, disseram, foi atirada no lago de Urcos.
Também não foram incluídas as onze mil lhamas carregadas de ouro em pó em vasos do mesmo metal, com as quais o infeliz Atahualpa pretendia comprar sua liberdade e sua vida e que os transportadores incas enterraram no Puna, assim que souberam da nova punição im­posta, traiçoeiramente, ao seu monarca adorado. Não só os re­latos da época confirmam que a enorme quantidade de ouro acumulada pêlos espanhóis resultou do saque das riquezas dos incas, e não de produção contínua, como os próprios registros oficiais o fazem. Depois que os tesouros visíveis e escondidos foram exauridos, os recibos da chegada de ouro em Sevilha registram meras 2,7 a 3,2 toneladas do metal por ano, durante décadas.
Foi então que os espanhóis, usando seu férreo poder, começaram a obrigar os nativos a trabalhar nas minas. O trabalho era tão duro que por volta do final do século a população nativa tinha sido drasticamente reduzida, obrigando a corte espanhola a impor limites à exploração da mão-de-obra local. Grandes filões de prata foram descobertos e explorados, como (literalmente uma montanha de prata) o de Potosi. Mas a quantidade de ouro obtida jamais seria igual, nem explicaria a origem dos vastos tesouros acumulados antes da chegada dos espanhóis.
Procurando uma resposta para esse enigma, Ribero e von Tschudi escreveram: “A quantidade de ouro encontrada no Peru, embora para os incas o metal tivesse grande valor, era muito superior a de outros lugares do Novo Mundo. A comparação dessa abundância na época dos incas com a quantidade extraída pêlos espanhóis no espaço de quatro séculos, tanto de minas, como de rios, parece mostrar que os nativos sabiam onde en­contrar ricos veios do precioso metal, informação jamais desco­berta pêlos conquistadores e seus descendentes.” (Eles também previram que chegaria o dia em que o Peru retiraria “de seu solo o véu que agora cobre riquezas mais incríveis do que as encontradas atualmente na Califórnia”. E quando a corrida ao ouro do final do século 19 reativou nova febre do ouro na Europa, muitos especialistas chegaram a acreditar que a chamada “mãe dos filões”, ou seja, a principal fonte de todo o ouro da Terra, seria encontrada no Peru.) 
A idéia geralmente aceita com relação às terras dos Andes, como com as do México, é que, segundo Del Mar, “o ouro obtido pêlos incas antes da conquista espanhola era resultante da peneiração das areias dos rios”. Não foram, segundo ele, encontra­das minas, embora algumas escavações feitas nas encostas das montanhas andinas tenham resultado no afloramento de ouro e de prata. A verdade é que, tanto em relação aos incas dos Andes como aos astecas do México, a questão da mineração pré-histórica extração do metal dos veios das rochas — até hoje não foi estabelecida.
Um colonizador espanhol escrevendo a sua versão da história
A possibilidade de que muito tempo antes dos incas alguém tivesse tido acesso ao ouro de fontes subterrâneas (em locais que os incas não descobriram, ou mesmo nem conheciam), parece explicação plausível para os tesouros acumulados: De fato, se­gundo um dos melhores estudos contemporâneos sobre o as­sunto, de S. K. Lothrop (Inca Treasure as Depicted by Spanish His­toriam – “O Tesouro inca Descrito por Historiadores Espanhóis”), “as modernas minas estão localizadas em locais de extração abo­rígene, tendo sido encontrados antigos túneis, ferramentas pri­mitivas e até corpos de mineradores mortos”.
O acúmulo de ouro pelos nativos da América, independente das formas como tenha sido obtido, deixa outra pergunta básica no ar: para quê?
Os cronistas e estudiosos contemporâneos, depois de muitos séculos de estudos, concordam que aqueles povos não tinham uso prático para o ouro, exceto para adornar os templos dos deuses e dos governantes. Os astecas literalmente derramaram seu ouro aos pés dos espanhóis, acreditando que eles represen­tavam o retorno de uma divindade. Os incas, que a princípio também viram nos espanhóis a concretização de uma predição sobre retorno de uma divindade pelo mar, mais tarde foram incapazes de entender porque os espanhóis haviam chegado de tão longe e se comportavam tão mal por causa de um metal para o qual o homem não tinha uso prático. Todos os estudiosos concordam que os incas e os astecas não utilizavam o ouro para propósitos monetários, nem o relacionavam com valor comercial. 
Ainda assim, eles pediam aos povos dominados um tributo em ouro. Por quê?
Nas ruínas da cultura pré-incaica de Chimu, na costa peruana, o grande explorador do século 19, Alexander von Humboldt (que era engenheiro de minas) descobriu ouro enterrado junto aos mortos, nas tumbas. A descoberta do metal instigou sua imagi­nação. Por que o ouro, que não tinha para os nativos valor prático, era enterrado com os mortos? De alguma forma eles pareciam acreditar que o metal seria necessário na vida após a morte. Ou que, ao juntar-se aos antepassados, poderiam usar o ouro da mesma forma que seus ancestrais haviam feito.
  • Quem introduzira tais costumes e crenças, e quando?
  • Quem valorizou o ouro a ponto de, talvez, procurar as minas? 
  • A única resposta que os espanhóis obtiveram foi: “os deuses”.
  • O ouro, segundo os incas, era formado pelas lágrimas dos deuses.
E apontando os deuses, eles sem querer ecoaram a afirmação do Senhor, na Bíblia, através do profeta Haggai:
  • A prata é minha, e o ouro é meu, assim declarou o Senhor das Alturas.
É essa afirmação, acreditamos, que contém a chave para a solução dos mistérios, enigmas e segredos dos deuses, homens, e das antigas civilizações das Américas.


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