OS REINOS PERDIDOS
Toledo,
na Espanha, é hoje uma cidade provinciana ao sul de Madri, distante
apenas cerca de uma hora de carro. Ainda assim, é impossível imaginar
que alguém vá à Espanha e não a visite, pois no interior de suas
muralhas se encontram, preservados, monumentos de diversas culturas e
lições de história. Segundo lendas locais, a sua existência remonta a
dois milênios antes da era cristã, tendo sido fundada, dizem, por
descendentes de Noé. O nome, muitos sustentam, vem do hebreu Toledoth (“História das Gerações”)…
Livro, OS REINOS PERDIDOS (The Lost Realms), da série de livros Crônicas da Terra, número IV, de Zecharia Sitchin
Capítulo I – O ELDORADO
… Suas
casas antigas e magníficos templos são testemunhas da ascensão e queda
dos mouros e do domínio muçulmano, da erradicação da esplêndida herança
judaica e da catolização completa da Espanha. Para Toledo, para a
Espanha e para todas as outras terras, 1492 foi um marco. Três eventos
ocorridos naquele período no território espanhol, geograficamente
conhecido como Ibéria — a única explicação para o nome está no termo
hebraico Ibri (hebreu) pelo qual seus primitivos habitantes ficaram conhecidos —, mudaram sua história. (n.T.-
Espanha, como o país passou a se chamar após a unificação dos
diferentes reinos, tem sua origem no semítico arcaico, quando os
navegantes fenícios que dominavam o Mediterrâneo fundaram Cádiz em torno
de 1.100 a.C.. A palavra hispânia em fenício antigo significava “lugar
com muitos coelhos” Desta posição vantajosa em frente ao Oceano
Atlântico, os Fenícios navegaram até as Américas (incluindo o Brasil), a
costa da África e Ilhas britânicas.)
Os reinos
ibéricos, até então divididos e em guerra entre si, depois de terem
perdido grande parte da península Ibérica para os muçulmanos, viram sua
primeira chance de união quando Fernando de Aragão casou com Isabel de
Castela, em 1469. No espaço de dez anos após este casamento, uma grande
ofensiva foi lançada contra os mouros, unindo a Espanha sob a bandeira
do catolicismo da igreja de Roma. Em janeiro de 1492, os mouros foram
finalmente derrotados com a queda de Granada, e a Espanha, a partir daí, se transformou em território católico.
Dois
grandes feitos, em março, o rei Fernando e a rainha Isabel assinaram um
édito, determinando a expulsão das terras espanholas de todos os judeus
que não se convertessem ao catolicismo até 31 de agosto daquele ano.
Enquanto isso, a 3 de agosto de 1492, Cristóvão Colombo — Cristóbal
Cólon para os espanhóis — partia de Paios, sob bandeira espanhola,
decidido a encontrar uma rota ocidental marítima para as Índias.
Avistou terra a 12 de outubro de 1492. Retornou à Espanha em janeiro de 1493. Como prova de seu sucesso levava consigo quatro “índios”
e, como reforço, para justificar uma nova expedição sob seu comando,
ofereceu à rainha badulaques de ouro obtidos dos nativos e uma história
fantástica sobre uma cidade do ouro, onde os habitantes usariam
braceletes e adornos de ouro, sendo o metal precioso encontrado em uma
mina próxima à cidade.
Do
primeiro estoque de ouro proveniente das novas terras desembarcado na
Espanha, Isabel — tão religiosa que foi chamada “a Católica” — ordenou
que fosse elaborada uma Custódia (objeto para expor a hóstia consagrada)
para a Catedral de Toledo, depositária, então, da tradicional
hierarquia católica espanhola. Assim, hoje, um visitante que entrar na
Catedral de Toledo para admirar seu tesouro — objetos preciosos doados à
Igreja através dos séculos e conservados numa sala protegida por
grossas grades de metal — pode ver, embora sem tocar, o primeiro ouro levado por Colombo das Américas para a Europa.
Atualmente,
os historiadores admitem que havia muito mais naquela viagem, além da
mera busca de uma nova rota para as índias. Há fortes evidências de que
Colombo era um judeu (de origem portuguesa) que fora forçado a se
converter ao catolicismo romano, enquanto seus financiadores, apesar de
convertidos, estariam interessados, na verdade, em novas terras mais
livres. Fernando e Isabel, por seu lado, haviam tido visões da
descoberta dos rios do Paraíso e das fontes da eterna juventude. O
próprio Colombo alimentava ambições secretas, algumas das quais chegou a
exprimir em seus diários pessoais. Via a si mesmo como o realizador de
antigas profecias, que falavam em uma nova era a se iniciar com a
descoberta de novos mundos “na extremidade da Terra”.
Porém, ele
era suficientemente realista para perceber que de todas as informações
de sua primeira viagem, a que mais chamara a atenção fora a referente ao
ouro. Dizendo que o “Senhor iria mostrar” o enigmático lugar “de onde
vinha o ouro”, ele persuadiu Fernando e Isabel a lhe fornecer uma frota
muito maior para a sua segunda viagem e, depois, mais uma para a
terceira. A essa altura, no entanto, os monarcas espanhóis enviaram, por
sua conta, para as novas terras, vários administradores, conhecidos não
como homens de visão, mas como homens de ação, que passaram a
supervisionar e a interferir nas operações e decisões de Colombo.
Os
conflitos inevitáveis culminaram com o retorno do navegador à Espanha,
acorrentado, sob o pretexto de que maltratara alguns de seus homens.
Embora o rei e a rainha o libertassem de imediato, oferecendo-lhe
dinheiro como compensação, concordavam com a opinião de que ele era um
bom navegador, mas um mau governador — e claramente do tipo que não
conseguiria forçar os indígenas a mostrar a verdadeira localização da
cidade do ouro.
Colombo
rebateu a todos, expressando maior confiança nas antigas profecias e
citações bíblicas. Reuniu todos os textos num livro — O Livro das Profecias — que
ofereceu de presente ao rei e à rainha. Pretendia, assim, convencê-los
de que a Espanha estava predestinada a reinar sobre Jerusalém e que
ele, Colombo, era o escolhido para executar essa tarefa, sendo o
primeiro a encontrar o lugar de onde o ouro provinha.
Fernando e
Isabel concordaram em deixar Colombo navegar mais uma vez, convencidos
especialmente pelo argumento de que a foz do rio por ele descoberto —
conhecido agora por Orenoco — era um dos quatro rios do Paraíso e, como as Escrituras afirmavam, um desses rios englobava a terra de Havilah,
“de onde veio o ouro” para a Terra. Essa última viagem, no entanto, foi
fonte de maiores vicissitudes e desavenças do que as outras três.
Deformado
pela artrite e transformado num espectro do homem que fora, Colombo
voltou à Espanha a 7 de novembro de 1504, poucos dias antes do
falecimento da rainha Isabel. O rei Fernando, embora apreciasse Colombo,
decidiu entregar a outros a tarefa de estudar o manuscrito por ele
preparado sobre as evidências da presença de ouro nas terras
recém-descobertas.
“Hispaniola
suprirá vossas invencíveis majestades com todo o ouro necessário”,
assegurou Colombo aos financiadores reais, referindo-se à ilha hoje
partilhada pelo Haiti e a República Dominicana. Lá, colonos espanhóis,
utilizando indígenas como mão-de-obra escrava, foram bem sucedidos na
mineração de fabulosas quantidades de ouro. Em menos de duas décadas o
Tesouro da Espanha recebeu ouro de Hispaniola equivalente a 500.000
ducados (n.T. Em apenas 20 anos foram 1.750 quilos de ouro. Um ducado
tinha 3,5 gramas de ouro a 0,986 de pureza.).
A
experiência dos conquistadores em Hispaniola iria se repetir muitas
vezes ao longo do imenso continente. As jazidas recém-descobertas,
porém, no curto espaço de duas décadas, haviam sido exauridas. Os nativos tinham morrido
ou fugido e a euforia dos espanhóis tinha se transformado em
desapontamento e desespero. Por isso, foram ficando cada vez mais
audaciosos, aventurando-se por costas novas e desconhecidas em busca de
riquezas. Um desses pontos de desembarque foi a península do Yucatán,
no México (a terra dos antigos Maias, Aztecas, Olmecas e Toltecas). Os
primeiros espanhóis a conhecer o local foram os sobreviventes de um
naufrágio, em 1511. Em 1517 um comboio de três navios sob o comando de
Francisco Hernandez de Córdoba já partia de Cuba para o Yucatán, com o
propósito de encontrar mão-de-obra escrava. Para seu enorme espanto, os
espanhóis se depararam com edifícios de pedra, templos e ídolos de
deuses; para desgraça dos habitantes nativos (que os espanhóis
entenderam chamar-se “Maia”) encontraram também “certos objetos de ouro,
que tomaram.”
O registro
da chegada espanhola e da conquista do Yucatán está baseado
principalmente no relato de frei Diego de Landa, de 1566, Relación de Las cosas de Yucatán (traduzido por William Gates para o inglês com o título de Yucatán, Before and After the Conquest -“Yucatán,
Antes e Depois da Conquista”- espanhola). Hernandez e seus homens,
afirma Diego de Landa, descobriram nessa expedição uma grande pirâmide
em degraus, ídolos, estátuas de animais e uma enorme cidade no interior.
Entretanto,
os índios que eles tentaram capturar reagiram de forma violeta, não se
detendo nem mesmo diante dos canhões dos navios. As grandes baixas
espanholas — o próprio Hernandez foi gravemente ferido — forçaram-nos a
retirada. Apesar disso, em sua volta para Cuba, Hernandez recomendou a
realização de novas expedições, pois “aquela terra era boa e rica em
virtude do seu ouro”.
Um ano
mais tarde, outra expedição partiu de Cuba com destino à península do
Yucatán. Os espanhóis aportaram na ilha de Cozumel e descobriram
territórios a que deram o nome de Nova Espanha, Pánuco, Tabasco. Armados
com uma grande variedade de bens para negociar e não apenas com armas,
eles encontraram não só índios hostis, mas também amigáveis. Examinaram
alguns monumentos e edifícios, sentiram a picada das flechas e lanças,
cuja ponta ostentava afiadas lascas de pedra obsidiana, e manusearam
objetos artísticos. Muitos eram feitos de pedra comum ou semi-preciosa;
outros brilhavam como ouro, mas num exame mais apurado descobriram
tratar-se de cobre. Havia, contrariamente à expectativa geral, poucos
objetos de ouro e nenhuma mina, ou outra fonte de ouro ou de outros
metais, na região. Nesse caso, onde conseguiam o ouro? No comércio,
afirmaram os maias. O metal vinha do Noroeste: na terra dos astecas,
era comum e abundante.
A descoberta e conquista do reino dos astecas, no planalto central do hoje México,
está ligada historicamente ao nome de Hernan Cortez. Em 1519 ele zarpou
de Cuba, comandando uma verdadeira armada de onze navios, seiscentos
homens, e um grande número dos então raros e valiosos cavalos.
Parando, desembarcando e embarcando, ele progrediu lentamente pela
costa do Yucatán. Na área onde a influência dos maias terminava e
começava a dos astecas, estabeleceu uma base de operações, batizando-a
de Veracruz (até hoje a cidade que surgiu deste posto leva este nome).
Foi lá que
os espanhóis, com grande espanto, receberam a visita dos emissários do
governante asteca, oferecendo saudações e presentes exóticos. Segundo
uma testemunha ocular, Bernal Díaz del Castillo (Historia verdadera de La conquista de La Nueva Espanã –
“A Verdadeira História da Conquista da Nova Espanha”, traduzido para o
inglês por A.P. Maudslay), os presentes incluíam “uma roda como o sol, tão grande como a roda de um carro, com muitas gravuras, todas em ouro, uma coisa magnífica de se contemplar e muito valiosa”; outra roda, ainda maior, “feita de prata muito brilhante, numa imitação da lua“; um chapéu cheio até a borda com grãos de ouro; um cocar feito com as plumas de um pássaro raro, o quetzal (relíquia que está no museu Völkerkunde de Viena).
Eram presentes, explicaram os emissários, de seu soberano Montezuma para o divino Quetzalcoatl (a “Serpente Emplumada“,
deus dos astecas), um grande benfeitor que fora forçado há muitos anos,
pelo Deus da Guerra, a deixar a terra dos astecas; com um bando de
seguidores rumara para o Yucatán e navegara para o leste, prometendo
voltar no ano “l Junco”. No calendário asteca, o ciclo de anos se
completa a cada 52 anos. No calendário católico
corresponderia aos anos 1363, 1415, 1467, 1519, precisamente o ano em
que Cortez apareceu nas águas do leste, às portas do domínio asteca.
Barbado, com cavalos, um animal desconhecido dos aztecas, e usando
capacete como Quetzalcoatl (alguns sustentavam que o deus tinha pele clara), Cortez parecia encaixar-se perfeitamente nas profecias.
Os
presentes oferecidos pelo soberano asteca não tinham sido escolhidos ao
acaso. Ao contrário, estavam repletos de simbolismos. A quantidade de
ouro em grão fora oferecida porque o ouro era considerado um metal
divino, pertencente aos deuses. O disco de prata, representando a lua, fora incluído porque a lenda rezava que Quetzalcoatl velejara em direção aos céus, fazendo da lua a sua casa.
O capacete emplumado e as vestimentas ricamente adornadas eram para o “deus” colocar. O disco dourado era um calendário (Maia, o Tzolkin) sagrado, representando o ciclo (n.T. De sincronização entre os dois principais calendários maia, o Haab de 365 dias e o Tzolkin de 260 dias, que levava 52 anos para acontecer) de 52 anos e indicando o ano do retorno. Sabemos disso porque descobrimos muitos iguais, feitos de pedra, em vez de ouro puro.
Se os
espanhóis perceberam ou não o simbolismo, não ficou nos registros. Se
perceberam, não o respeitaram. Para eles os objetos significavam a prova
da existência de riquezas no reino dos astecas. Esses objetos
insubstituíveis estavam entre os tesouros de arte mexicana que chegaram
a Sevilha em 9 de dezembro de 1519, a bordo do primeiro navio com ouro
enviado por Cortez. O rei espanhol Carlos I, neto de Fernando e soberano
de outras terras europeias como Imperador Carlos V do Sagrado Império
(católico) Romano, estava então em Flandres e o navio foi enviado a
Bruxelas.
O tesouro
incluía presentes simbólicos, estatuetas de animais como patos,
cachorros, tigres, leões, macacos, um arco e flechas de ouro. Porém,
suplantando todas as outras peças estava o “disco do sol”, com dois metros de diâmetro, com espessura de quatro moedas reais. O grande pintor e artista Albrecht Dürer, que viu o tesouro chegado da “Nova Terra do Ouro”, referiu-se a ele dizendo:
“aquelas
coisas eram tão preciosas que foram avaliadas em 100 000 florins; eu
nunca tinha visto coisas que alegrassem tanto o meu coração como
aquelas; eram objetos artísticos surpreendentes e maravilhei-me com a
ingenuidade dos homens naquelas terras distantes; na verdade, minhas
palavras não conseguem descrever o que estava na minha frente”.
Para o
rei, porém, qualquer que fosse o valor artístico, religioso, cultural ou
histórico “daquelas coisas”, elas significavam, acima de tudo, apenas ouro — o metal que poderia financiar suas lutas internas e externas.
Sem perda de tempo, Carlos ordenou que todos os objetos de metais
preciosos fossem derretidos e transformados em lingotes de ouro e prata.
No México,
Cortez e seus homens adotaram a mesma atitude. Avançando lentamente e
superando a resistência, fosse pela força superior de armas, ou pela
diplomacia e traição, os espanhóis chegaram à capital asteca, TENOCHTITLAN (*) — hoje Cidade do México (a capital do país)
— em novembro de 1519. A cidade, localizada no meio de um lago, só
podia ser alcançada por estradas elevadas, facilmente defensáveis. Ainda
assim, influenciados pelas predições do “Deus que retorna”, Montezuma e
todos os nobres astecas saíram para receber Cortez e sua comitiva.
Apenas Montezuma usava sandálias; todos os outros estavam descalços,
humilhando-se perante o deus branco. O chefe asteca acolheu os espanhóis
em seu magnífico palácio.
{(*) TENOCHTITLAN: Em destaque se observa o nome bíblico de ENOCH inserido no nome da capital e maior cidade dos Aztecas, TENOCHTITLAN. No primeiro livro da Bíblia, o Gênesis, capítulo 4, versículos 16 e 17 depois que Caim matou Abel lemos:
“E
saiu Caim de diante da face do Senhor, e habitou na terra de Nod, do
lado oriental do Éden. E conheceu Caim a sua mulher, e ela concebeu, e
deu à luz a Enoch; e Caim edificou uma cidade, e chamou o nome da cidade
conforme o nome de seu filho Enoque“. Gênesis 4:16-17
Tenochtitlan, na antiga língua azteca queria dizer exatamente a mesma coisa: Cidade de Enoch !!}
Havia ouro
por todos os lados, até mesmo os talheres eram feitos de ouro. Os
astecas mostraram aos espanhóis um depósito cheio de objetos de ouro.
Utilizando um estratagema, eles pegaram Montezuma e o mantiveram preso
em seus aposentos; para libertá-lo exigiram um resgate em ouro. Os
nobres astecas enviaram emissários por todo o reino para recolher o
resgate; os objetos de ouro assim conseguidos foram suficientes para
encher um galeão, que zarpou para a Espanha (esse navio foi aprisionado
pêlos franceses, causando a deflagração de uma guerra.)
Obtendo
mais ouro através de esperteza, e enfraquecendo os astecas ao semear a
dissidência entre eles, Cortez planejava libertar Montezuma e mantê-lo
no trono como um marionete. Porém, seu segundo comandante perdeu a
paciência e ordenou um massacre de nobres e chefes astecas. Na confusão
que se seguiu, Montezuma foi morto e os espanhóis tiveram de enfrentar
uma verdadeira guerra. Com grandes perdas, Cortez retirou-se da cidade.
Retornou mais tarde com pesados reforços de Cuba. Depois de uma campanha
prolongada, conseguiu dominá-la em agosto de 1521. Ao entrar na cidade
impôs a lei espanhola aos astecas: o ouro foi retirado, saqueado e
transformado em lingotes.
O México,
na época da conquista, representou mesmo uma Nova Terra do Ouro. Porém,
depois da retirada de todos os objetos de ouro, acumulados pêlos astecas
durante séculos, talvez milênios, ficou claro que aquela não era a
terra bíblica de Havilah e Tenochtitlán ainda não era a
lendária cidade do ouro. Como nem aventureiros nem reis estavam
dispostos a desistir, a busca continuou, voltando-se para outras partes
do Novo Mundo.
Os
espanhóis já haviam estabelecido uma base no Panamá, na costa atlântica
da América e dali enviavam expedições para a América Central e América
do Sul. Foi lá que ouviram a tentadora lenda do “El Dorado”, forma abreviada de el hombre dorado (“o
homem dourado”). Este homem teria sido o rei de uma cidade tão rica,
que todas as manhãs era untado com uma resina, ou óleo, sobre a qual era
espalhado ouro em pó, cobrindo-o da cabeça aos pés; à noite ele se
banhava num lago para retirar todo o ouro e o óleo. No dia seguinte recomeçava o ritual. Seu reino ficava no meio de um lago, numa ilha de ouro.
Segundo a crônica Elejias de Varones Ilustres de índias (Preferências
de Ilustres Cidadãos das índias), a primeira menção concreta ao
Eldorado foi feita a Francisco Pizarro no Panamá por um de seus
capitães. Sua versão foi a seguinte: um nativo da Colômbia ouvira falar
de “um país rico em esmeraldas e ouro, cujo rei, despido, era levado em
uma jangada até o meio do lago para fazer ablações aos deuses; sua forma
majestática era aspergida com óleo perfumado, desde as solas dos pés
até o alto da testa, tornando-o resplandecente como o brilho do sol”. O
ritual era assistido por muitos peregrinos, “que faziam ricas oferendas
votivas, como amuletos de ouro e esmeraldas raras e outros ornamentos,
atirando-os no lago sagrado”.
Outra
versão, sugerindo que o lago sagrado ficava em algum lugar ao norte da
Colômbia, colocava o rei dourado carregando uma “grande quantidade de
ouro e esmeraldas” para o centro do lago. Lá, agindo como emissário das
multidões, que ficavam gritando e tocando instrumentos musicais ao redor
do lago, ele atirava o tesouro às águas como oferenda para seu deus.
Outra versão, ainda, dava o nome de Manoa à cidade dourada, e situava-a na terra de Biru — Peru para os espanhóis.
Os
comentários sobre o Eldorado espalharam-se como fogo em mato seco entre
os espanhóis do Novo Mundo. Com o tempo, chegaram à Europa. Os relatos
boca a boca rapidamente se transformaram em panfletos e livros. Eles
começaram a circular pela Europa, descrevendo a terra, o lago, a cidade,
o rei, mesmo se ninguém ainda o tivesse visto, e até mesmo o rito de
douração do rei a cada manhã.
Enquanto
muitos seguiram direção aleatória, como Cortez, que partiu em direção à
Califórnia, e outros que viajaram até a Venezuela, Francisco Pizarro e
seus tenentes se basearam, exclusivamente, nos relatos dos nativos.
Alguns foram para a Colômbia e limitaram suas buscas ao Lago Guatavita
— esta busca continuou por quatro séculos, rendendo objetos votivos de
ouro, o que convenceu as gerações seguintes de caçadores de tesouros da
vantagem de drenar o lago completamente para recuperar as riquezas do
fundo.
Outros,
como o próprio Pizarro, acreditaram ser o Peru a localização correta.
Duas expedições partiram do Panamá para a América do Sul, seguindo pela costa do Pacífico.
A quantidade de objetos de ouro encontrada foi suficiente para
convencê-los de que valeria a pena uma expedição maior ao Peru. Depois
de obter permissão real para essa empreitada e garantir o título de
Capitão Geral e Governador da terra a ser conquistada, Pizarro zarpou
para o Peru, chefiando duzentos homens. O ano era 1530.
Como
ele esperava com uma força tão pequena conquistar um grande país,
protegido por milhares de súditos leais ao seu senhor supremo, o INCA, a
quem consideravam a personificação de um deus? O plano de Pizarro era
repetir a estratégia empregada por Cortez: atrair o rei, prendê-lo,
obter ouro como resgate, depois soltá-lo para transformá-lo em títere
dos espanhóis.
O fato de
os incas, como o próprio povo se chamava, estarem envolvidos numa guerra
civil quando os espanhóis chegaram, foi uma surpresa inesperada. Os
conquistadores descobriram que, após a morte do inca Supremo, seu
primogênito por parte de uma “segunda esposa” desafiara a legitimidade
da sucessão pelo filho nascido da esposa oficial. Quando a notícia de
que os espanhóis avançavam chegou até o filho desafiante — Atahualpa —
ele decidiu deixá-los seguir em frente por terra, distanciando-os,
assim, dos seus navios e dos possíveis reforços.
Enquanto
isso, Atahualpa ocupava a capital, Cuzco, Ao encontrar a maior cidade
dos Andes na época (Cajamarca) os espanhóis enviaram ao seu chefe,
Atahualpa, emissários com presentes, prometendo paz. Sugeriram que os
dois líderes se encontrassem na praça da cidade, desarmados e sem
escolta militar, como demonstração de boa vontade. Atahualpa concordou.
Porém, quando chegou à praça, os espanhóis o atacaram e aprisionaram.
Para
libertá-lo, pediram um resgate: um aposento grande cheio de ouro até
onde pudesse alcançar a mão de um homem esticada na direção do teto.
Atahualpa compreendeu que aquilo significava encher a sala com objetos
de ouro e concordou. Sob suas ordens, foram trazidos dos templos e
palácios utensílios de ouro — taças, cântaros, bandejas, vasos de todos
os tipos e tamanhos — além de ornamentos, entre os quais imitações de
animais e plantas, placas que se alinhavam nas paredes dos edifícios
públicos. Durante semanas, os tesouros dos incas foram sendo acumulados
no aposento. Mas os espanhóis reclamaram que o combinado fora encher a
sala com ouro sólido, não na forma de objetos que ocupavam mais espaço.
Durante cerca de um mês, os ourives incas trabalharam para derreter e
transformar todos os objetos artísticos em lingotes.
Como se a
história insistisse em se repetir, o destino de Atahualpa foi exatamente
o mesmo de Montezuma. Pizarro pretendia libertá-lo para representar o
papel de rei em nome da Espanha. Porém, os zelosos oficiais e os
representantes da Igreja, num julgamento forjado, condenaram Atahualpa à
morte por crime de idolatria e pelo assassinato de seu meio-irmão e
rival na luta pelo trono.
O resgate obtido pelo rei inca, segundo uma das crônicas da época, foi o equivalente a 1.326.539 pesos de oro — cerca de 5.670 quilos
— uma riqueza que foi rapidamente dividida entre Pizarro e seus homens,
depois de separado o quinto do rei. Contudo, apesar da quantidade de
ouro distribuída a cada um estar bem acima dos seus sonhos, não era nada comparada ao que estava para vir.
Quando os conquistadores entraram na capital, Cuzco, viram templos e palácios
literalmente cobertos e repletos de ouro. No palácio real havia três
aposentos cheios de objetos de ouro e cinco com prata, além de cerca de
100 000 lingotes do precioso metal, com cerca de 2,2 quilos cada um,
Aguardando para serem transformados em objetos de arte. O trono de ouro,
com uma banqueta de ouro, projetado de forma a converter-se numa
liteira, onde o rei se reclinava, pesava 25.000 pesos (cerca de
110 quilos); até mesmo as hastes eram cobertas de ouro. Por toda a
parte havia capelas e câmaras mortuárias para honrar ancestrais, cheias
de estatuetas e imagens de pássaros, peixes, pequenos animais, brincos e
colares.
No grande templo (que os espanhóis denominaram Templo do Sol)
as paredes eram cobertas com pesadas placas de ouro. O jardim era
artificial, e tudo nele — árvores, arbustos, flores, pássaros, uma
fonte — era feito de ouro. No pátio havia um milharal, onde cada planta
era feita de prata, e as espigas de ouro; tratava-se de uma área com
cerca de 300 por 600 pés — 180 000 pés (60 mil metros) quadrados de
milho de ouro!
No Peru,
os conquistadores espanhóis viram as fáceis vitórias iniciais
transformarem-se em rebeliões incas difíceis de controlar e a enorme
riqueza dar lugar a uma espécie de inflação. Para os incas, assim como
para os astecas, o ouro era um presente, ou propriedade dos deuses, não
um meio de troca. Nunca o utilizaram em substituição ao dinheiro. Para
os espanhóis, o ouro era uma forma de realizar todos os desejos e
sonhos. Cheios de ouro, mas sem as comodidades da terra natal para
usufruir, e mesmo sem as coisas básicas para atender as
necessidades diárias, logo estavam pagando 60 pesos de ouro por uma
garrafa de vinho, 100 por um manto, 10.000 por um cavalo.
Porém, ao
regressar à Europa carregados de ouro, prata e pedras preciosas,
aumentavam a cobiça e encorajavam as especulações em torno de Eldorado.
Não importava quantas riquezas chegassem, permanecia a convicção de que
o Eldorado ainda não fora encontrado e que alguém poderia encontrá-lo
se tivesse sorte, persistência e interpretasse corretamente as pistas
fornecidas pêlos nativos e pêlos mapas enigmáticos. Exploradores alemães estavam convencidos de que a cidade do ouro poderia ser encontrada nas cabeceiras do rio Orenoco, na Venezuela, ou na Colômbia.
Outros acreditavam que o rio deveria ser outro, talvez o Amazonas, no Brasil. Provavelmente, o mais romântico de todos tenha sido Sir Walter Raleigh,
que velejou de Plymouth em 1595 para encontrar a lendária Manoa e
adicionar sua glória em ouro ao tesouro da Rainha Elisabeth. Em sua visão, ele viu Manoa como El Dorado imperial, dos telhados de ouro!
“Sombras às quais — a despeito de todos os choques da mudança, de todos os acidentes caprichosos — Os homens se agarram com esperança e desejo de que não hão de terminar.”
Ele, como
outros antes e depois dele, ainda viam Eldorado — o rei, a cidade, a
terra — como um sonho a ser realizado, “com esperança e desejo que não
hão de terminar”. Todos os que saíram em busca do Eldorado representaram
mais um elo na cadeia iniciada antes dos faraós e que continua em
nossos dias, nas alianças de ouro e nas reservas nacionais. Ainda
assim, foram esses sonhadores, esses aventureiros, em sua procura pelo
ouro, que revelaram ao homem ocidental os povos e civilizações
desconhecidos das Américas.
Portanto, sem o saber, restabeleceram as ligações que existiram em tempos remotos. Por
que a busca do Eldorado continuou por tanto tempo, mesmo depois da
descoberta dos incríveis tesouros em ouro e prata do México e do Peru,
para não mencionar as terras menos saqueadas? A busca constante e
intensa pode ser atribuída em grande parte à convicção de que a fonte daquelas riquezas ainda não havia sido encontrada.
Os
espanhóis interrogaram exaustivamente os nativos sobre a fonte dos
tesouros acumulados, seguindo todas as pistas. Logo ficou claro que as
ilhas do Caribe e a península do Yucatán não eram produtoras de ouro: os
maias diziam que conseguiam o metal no comércio com seus vizinhos do
sul e do oeste e que haviam aprendido a arte da ourivesaria com os
primeiros habitantes da região, identificados pêlos historiadores de
hoje como toltecas. Certo, disseram os espanhóis, mas de onde
os outros tiravam o ouro? Os deuses o forneciam, responderam os maias.
Na língua local, o ouro era chamado teocuitlatl, significando literalmente “a excreção” dos deuses, seu suor e lágrimas.
Na capital
asteca os espanhóis aprenderam que o ouro, de fato, era o metal dos
deuses e seu roubo caracterizava uma ofensa mortal. Os astecas também
apontaram os toltecas como os professores da arte da ourivesaria. E
quem ensinara aos toltecas? O grande deus Quetzalcoatl, responderam os
astecas. Cortez, em seus relatórios para o rei da Espanha, diz que
interrogara Montezuma intensamente. Ele revelara que o ouro vinha de
três áreas de seu reino: uma na costa do Pacífico, outra às margens do
golfo, e outra a Sudoeste, onde ficavam as minas.
Cortez
enviou homens para investigar os locais apontados. Nos três locais
descobriu que os nativos, na verdade, obtinham o ouro nos leitos dos
rios, ou coletando pepitas onde as chuvas as haviam deixado à flor da
terra. No local onde deveriam existir minas, elas pareciam ter sido
exploradas no passado. Os nativos encontrados pêlos espanhóis não
estavam trabalhando nas minas. “Não havia minas ativas”, escreveu Cortez
em seu relatório. “As pepitas são encontradas na superfície; a fonte
principal é a areia dos leitos dos rios; o ouro, guardado em pó em
pequenos tubos ou saquinhos, depois de derretido em pequenas panelas é
transformado em barras”. Uma vez trabalhado, era enviado à capital para
ser devolvido aos deuses, a quem o ouro sempre pertencera.
Embora a
maior parte dos especialistas em mineração e metalurgia tenha
acreditado nas conclusões de Cortez, de que os astecas faziam apenas a
coleta do ouro (juntando as pepitas e a poeira na superfície) e não a
mineração, envolvendo a abertura de poços e túneis nas encostas das
montanhas, a questão está longe de ter sido resolvida. Os conquistadores
e engenheiros de mineração, através dos séculos, falaram
insistentemente na existência de minas pré-históricas em vários locais
do México. Parece inconcebível que os primeiros habitantes da região —
como os toltecas, vivendo ali desde alguns séculos antes da era cristã —
fossem detentores de uma tecnologia avançada de mineração, ou até mais
adiantada que a dos astecas.
Assim, as
pretensas “minas pré-históricas” foram descartadas pelos pesquisadores
como velhos poços abertos e abandonados pelos próprios conquistadores
espanhóis. Expressando a opinião moderna sobre o assunto, Alexander Del
Mar (A History of the Precious Metals –“História dos Metais
Preciosos”) afirma: “em relação à mineração pré-histórica, deve ser
lembrado que os astecas não conheciam o ferro, portanto a mineração
subterrânea… está praticamente fora de questão; é verdade que
exploradores modernos encontraram no México velhos túneis e evidências
de trabalhos de mineração, indicando um cenário de mineração
pré-histórica”. Embora tais relatórios tenham sido publicados com
chancela oficial, Del Mar acreditava que os sítios eram “antigos
trabalhos combinados com atividade vulcânica, ou com depósitos de lava e
alcatrão, ambos servindo como evidências de grande antiguidade”. “Esta
inferência”, conclui ele, “dificilmente é garantida”.
Isso,
entretanto, não corresponde aos relatos dos próprios astecas. Eles
atribuíam a seus antecessores, os toltecas, não só a técnica, como o
conhecimento de minas ocultas de ouro e a habilidade de retirá-lo de
montanhas de pedra. O manuscrito asteca conhecido como Códice Matritense de Ia Real Academia (vol.8), traduzido por Miguel León-Portilla (Aztec Thought and Culture – “O Pensamento e a Cultura dos Astecas”) descreve assim os toltecas:
“Os
toltecas eram um povo engenhoso; todos os seus trabalhos eram exatos,
bem feitos e admiráveis… Pintores, escultores, lapidadores de pedras
preciosas, artistas com a pena, ceramistas, fiandeiros, tecelões,
habilidosos em tudo o que faziam. Descobriram as preciosas pedras
verdes, as turquesas; conheciam a turquesa e suas minas. Encontraram
essas minas e o esconderijo nas montanhas do ouro e da prata, do cobre,
do estanho, e do metal da lua”. Os toltecas, como concordam a maior
parte dos historiadores, chegaram ao planalto central do México antes da
era cristã, pelo menos mil anos, talvez quinhentos anos, antes do
surgimento dos astecas. Como era possível que conhecessem mineração,
exploração do ouro, de outros metais, extração de pedras preciosas, como
as turquesas, em lugares onde os seus seguidores — os astecas — só
conseguiram encontrar pepitas na superfície? E quem ensinara aos
toltecas os segredos da mineração? A resposta, como já vimos, era Quetzalcoatl, o deus da Serpente Emplumada.
O mistério dos tesouros acumulados e da limitada habilidade dos astecas para obtê-los repetiram-se na terra dos incas.
No Peru,
assim como no México, os nativos conseguiam ouro, coletando grãos e
pepitas rolados das montanhas para os leitos dos rios. Porém, a
quantidade acumulada através desses métodos não explicava o imenso
tesouro encontrado com os incas. A enormidade deste tesouro fica bem
clara nos registros espanhóis mantidos em Sevilha, o porto oficial de
entrada das riquezas do Novo Mundo. Os Arquivos das índias — ainda disponíveis — guardam recibos que indicam que nos cinco anos, entre 1521 e 1525, as riquezas somaram 134.000 pesos de oro. Nos
cinco anos seguintes (a pilhagem do México!) subiram para espantosos
1038 000 pesos. De 1531 a 1535, quando os carregamentos do Peru
começaram a chegar, a quantidade de ouro aumentou para l 650 000 pesos.
Durante o período de 1536 a 1540, época em que o Peru se transformou em
fonte principal, já subira para 3 937 000 pesos; e na década iniciada em
1550 chegou a quase 11.000.000 pesos.
Um dos cronistas mais importantes da época, Pedro de Cieza de León (Chronides of Peru – “Crônicas
do Peru”), relatou que, após a conquista, os espanhóis “extraíram” do
império inca, anualmente, 15 000 arrobas de ouro e 50 000 de prata, o
equivalente a cerca de 170 toneladas de ouro e 567 de prata, anualmente. Embora
Cieza de León não mencione quanto tempo durou esta fabulosa “extração”
de metais preciosos, seus números mostram a enormidade de riquezas que
os espanhóis foram capazes de amealhar nas terras dos incas.
As
crônicas relatam, ainda, que depois do volumoso resgate obtido pela
prisão de Atahualpa, da pilhagem das riquezas de Cuzco, do desmanche de
um templo sagrado na costa, em Pa-chácamac, os espanhóis se tornaram
especialistas em “extrair” ouro das regiões incas. Os palácios e templos
dos incas eram ricamente decorados com ouro. Seus túmulos eram cheios
de objetos de ouro.
Os
conquistadores logo perceberam o costume local de fechar a residência
dos nobres e governantes, deixando dentro seus corpos mumificados,
cercados pelos objetos preciosos que haviam possuído em vida. Os
espanhóis também suspeitaram, corretamente, que os nativos haviam
carregado tesouros para esconderijos; alguns foram colocados em
cavernas, outros atirados aos lagos. E lá estavam as huacas, locais
venerados e separados para adoração e para uso divino, onde o ouro era
empilhado e deixado à disposição de seus donos verdadeiros, os deuses.
Histórias
de tesouros encontrados, freqüentemente obtidos pela tortura de nativos
para que revelassem tais locais, permeiam os registros dos cinqüenta
anos seguintes às conquistas e até mesmo dos séculos 17 e 18. Foi dessa
forma que Gonzalo Pizarro encontrou o tesouro escondido de um chefe inca
de um século antes. Um certo Garcia Gutiérrez de Toledo também
encontrou o esconderijo de tesouros sagrados, de onde foram “extraídos”
1000 000 de pesos em ouro, entre 1566 e 1592. Em 1602, Escobar
Corchuelo retirou da huaca “La Tosca”, objetos avaliados em 60
000 pesos. E quando as águas do rio Moche foram desviadas, um tesouro
valendo 600 000 pesos foi encontrado, incluindo, como relatou o
cronista, “um grande ídolo de ouro.”
Relatos de
um século e meio atrás — mais perto dos acontecimentos, portanto, do
que os atuais — de dois exploradores, M. A. Ribero e J.J. von Tschudi (Peruvian Antiquities – “Antiguidades
Peruanas”), descrevem assim a situação: Na segunda metade do século
XVI, no curto espaço de vinte e cinco anos, os espanhóis exportaram do Peru para a Espanha mais de quatro milhões de ducados de ouro e prata.
Temos certeza de que nove décimos disso era resultante de pilhagem.
Nesse cálculo não consideramos a quantidade de metais preciosos
enterrados pelos nativos para escondê-los da cobiça dos conquistadores,
como a famosa corrente de ouro (segundo relatos, teria 213 metros de comprimento e a grossura do pulso de um homem)
que o chefe inca Huayna Capac mandou fazer para comemorar o nascimento
de seu filho primogênito, Inti Cusi Huallapa Huáscar, e que, disseram,
foi atirada no lago de Urcos.
Também não foram incluídas as onze mil lhamas carregadas de ouro em pó em vasos do mesmo metal,
com as quais o infeliz Atahualpa pretendia comprar sua liberdade e sua
vida e que os transportadores incas enterraram no Puna, assim que
souberam da nova punição imposta, traiçoeiramente, ao seu monarca
adorado. Não só os relatos da época confirmam que a enorme quantidade
de ouro acumulada pêlos espanhóis resultou do saque das riquezas dos
incas, e não de produção contínua, como os próprios registros oficiais o
fazem. Depois que os tesouros visíveis e escondidos foram exauridos, os
recibos da chegada de ouro em Sevilha registram meras 2,7 a 3,2
toneladas do metal por ano, durante décadas.
Foi então
que os espanhóis, usando seu férreo poder, começaram a obrigar os
nativos a trabalhar nas minas. O trabalho era tão duro que por volta do
final do século a população nativa tinha sido drasticamente reduzida,
obrigando a corte espanhola a impor limites à exploração da mão-de-obra
local. Grandes filões de prata foram descobertos e explorados, como
(literalmente uma montanha de prata) o de Potosi. Mas a
quantidade de ouro obtida jamais seria igual, nem explicaria a origem
dos vastos tesouros acumulados antes da chegada dos espanhóis.
Procurando
uma resposta para esse enigma, Ribero e von Tschudi escreveram: “A
quantidade de ouro encontrada no Peru, embora para os incas o metal
tivesse grande valor, era muito superior a de outros lugares do Novo
Mundo. A comparação dessa abundância na época dos incas com a quantidade
extraída pêlos espanhóis no espaço de quatro séculos, tanto de minas,
como de rios, parece mostrar que os nativos sabiam onde encontrar ricos
veios do precioso metal, informação jamais descoberta pêlos
conquistadores e seus descendentes.” (Eles também previram que chegaria o
dia em que o Peru retiraria “de seu solo o véu que agora cobre riquezas
mais incríveis do que as encontradas atualmente na Califórnia”. E
quando a corrida ao ouro do final do século 19 reativou nova febre do
ouro na Europa, muitos especialistas chegaram a acreditar que a chamada
“mãe dos filões”, ou seja, a principal fonte de todo o ouro da Terra,
seria encontrada no Peru.)
A idéia
geralmente aceita com relação às terras dos Andes, como com as do
México, é que, segundo Del Mar, “o ouro obtido pêlos incas antes da
conquista espanhola era resultante da peneiração das areias dos rios”.
Não foram, segundo ele, encontradas minas, embora algumas escavações
feitas nas encostas das montanhas andinas tenham resultado no
afloramento de ouro e de prata. A verdade é que, tanto em relação aos
incas dos Andes como aos astecas do México, a questão da mineração pré-histórica — extração do metal dos veios das rochas — até hoje não foi estabelecida.
A
possibilidade de que muito tempo antes dos incas alguém tivesse tido
acesso ao ouro de fontes subterrâneas (em locais que os incas não
descobriram, ou mesmo nem conheciam), parece explicação plausível para
os tesouros acumulados: De fato, segundo um dos melhores estudos
contemporâneos sobre o assunto, de S. K. Lothrop (Inca Treasure as Depicted by Spanish Historiam – “O Tesouro
inca Descrito por Historiadores Espanhóis”), “as modernas minas estão
localizadas em locais de extração aborígene, tendo sido encontrados
antigos túneis, ferramentas primitivas e até corpos de mineradores
mortos”.
O
acúmulo de ouro pelos nativos da América, independente das formas como
tenha sido obtido, deixa outra pergunta básica no ar: para quê?
Os
cronistas e estudiosos contemporâneos, depois de muitos séculos de
estudos, concordam que aqueles povos não tinham uso prático para o ouro,
exceto para adornar os templos dos deuses e dos governantes. Os astecas
literalmente derramaram seu ouro aos pés dos espanhóis, acreditando que
eles representavam o retorno de uma divindade. Os incas, que a
princípio também viram nos espanhóis a concretização de uma predição
sobre retorno de uma divindade pelo mar, mais tarde foram incapazes de
entender porque os espanhóis haviam chegado de tão longe e se
comportavam tão mal por causa de um metal para o qual o homem não tinha
uso prático. Todos os estudiosos concordam que os incas e os astecas não
utilizavam o ouro para propósitos monetários, nem o relacionavam com
valor comercial.
Ainda assim, eles pediam aos povos dominados um tributo em ouro. Por quê?
Nas ruínas
da cultura pré-incaica de Chimu, na costa peruana, o grande explorador
do século 19, Alexander von Humboldt (que era engenheiro de minas)
descobriu ouro enterrado junto aos mortos, nas tumbas. A descoberta do
metal instigou sua imaginação. Por que o ouro, que não tinha para os
nativos valor prático, era enterrado com os mortos? De alguma forma eles
pareciam acreditar que o metal seria necessário na vida após a morte.
Ou que, ao juntar-se aos antepassados, poderiam usar o ouro da mesma
forma que seus ancestrais haviam feito.
- Quem introduzira tais costumes e crenças, e quando?
- Quem valorizou o ouro a ponto de, talvez, procurar as minas?
- A única resposta que os espanhóis obtiveram foi: “os deuses”.
- O ouro, segundo os incas, era formado pelas lágrimas dos deuses.
E apontando os deuses, eles sem querer ecoaram a afirmação do Senhor, na Bíblia, através do profeta Haggai:
- A prata é minha, e o ouro é meu, assim declarou o Senhor das Alturas.
É essa
afirmação, acreditamos, que contém a chave para a solução dos mistérios,
enigmas e segredos dos deuses, homens, e das antigas civilizações das
Américas.
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