Esses seres seriam de linhagem próxima à do Homo erectus e chegaram a conviver com o homem moderno.
Eles
eram homenzinhos de pouco mais de 1m quando adultos. Mas sua
descoberta, no início dos anos 2000, provocou um debate gigante sobre a
raça humana. Desde as primeiras descrições do Homo floresiensis,
encontrado na Ilha de Flores, Indonésia, especulou-se muito sobre essas
criaturas. Enquanto alguns os posicionaram na árvore evolutiva do
homem, apontando-os como um de nossos ancestrais, outros levantaram
teorias de que os fósseis escavados eram Homo sapiens que sofriam de
algum distúrbio do crescimento.
Agora, dois estudos publicados
na revista Nature sepultam essas dúvidas e confirmam que os misteriosos
habitantes do paraíso indonésio eram uma espécie distinta. Novas
evidências fósseis mostraram que os hobbits — apelido dado em referência
aos pequeninos personagens de Senhor dos anéis, de J. R. R. Tolkien —
estavam na ilha há pelo menos 700 mil anos, muito antes do aparecimento
do homem moderno (há cerca de 250 mil anos), sugerindo que eles são de
uma linhagem próxima à do Homo erectus.
As constatações vieram de seis dentes pertencentes a um
adulto e a duas crianças, além de uma mandíbula parcial, escavados em
2014 em uma rocha de Mata Menge, na Ilha de Flores. Até hoje,
resquícios de hobbits só haviam sido encontrados na caverna de Liang
Bua, o que reforçava a teoria de que não se tratava de uma espécie, mas
de um pequeno grupo de indivíduos com distúrbio de desenvolvimento,
talvez de uma mesma família. Contudo, Mata Menge fica a 70km dali, e os
ossos estavam em uma camada geológica que antecede a datação de Liang
Bua em mais de 500 mil anos.
Adaptação
Segundo Gert van den Berth, do Centro de
Ciências Arqueológicas da Universidade de Wollongong, na Austrália, e
um dos responsáveis pela descoberta, isso não deixa dúvidas sobre a
existência da espécie dos Homo floresiensis. “Nossa descoberta tem
importantes implicações para a compreensão sobre a dispersão e a
evolução humana na região e acaba de vez com qualquer suposição de que o
Homo floresiensis era simplesmente um homem moderno (Homo sapiens)
doente”, observou, em uma coletiva de imprensa.
Em nota, o
anatomista Yousuke Kaifu, pesquisador do Museu Nacional de Ciência e
Natureza de Tóquio, que participou do estudo, contou que fez
comparações dos dentes e da mandíbula com uma ampla base de dados.
“Todos são de hominídeos (ancestrais humanos), sem sombra de dúvidas, e
parecem ser extremamente similares aos do Homo floresiensis. A
morfologia dos dentes também sugere que essa linhagem humana representa
um descendente miniaturizado dos primeiros Homo erectus, que, de
alguma forma, chegaram à Ilha de Flores. Inesperadamente, tudo indica
que o Homo floresiensis tinha obtido seu tamanho pequeno há pelo menos
700 mil anos”, disse.
O arqueólogo Adam Brumm, da Universidade
de Griffith, na Austrália, disse, na coletiva de imprensa, que, como
alguns artefatos de pedra descobertos anteriormente na mesma região têm
por volta de 1 milhão de anos, essa linhagem humana já estava na ilha
indonésia 300 mil anos antes da existência dos indivíduos que tiveram
seus fósseis escavados. “É possível que os pequeninos floresiensis
tenham desenvolvido as proporções corporais diminutas nos primeiros 300
mil anos em Flores, e que eles representem uma linhagem miniaturizadas
derivada do Homo erecuts.” Anatomicamente, os homens de Flores são
muito mais semelhantes, apesar da estatura baixa, ao Homo erectus —
possivelmente o primeiro hominídeo a se aventurar fora da África — do
que ao Homo habilis, seu contemporâneo. A hipótese de que os hobbits
descenderam deles, inclusive, não é nova. Em Flores, eles teriam
sofrido o processo de miniaturização para se adaptar às características
locais, como falta de predadores e escassez de recursos.
Outras hipóteses
De
acordo com Brumm, há outra hipótese para a origem evolutiva dos
hobbits, segundo a qual a especialização teria ocorrido em alguma ilha
entre a Ásia (de onde veio o Homo erectus) e Flores. Nesse caso, os
pequenos hominídeos já teriam, portanto, chegado à Indonésia com o
formato corporal característico. Brumm lembrou que, há cinco meses, Van
den Bergh publicou um artigo também na Nature, descrevendo ferramentas
de pedra encontradas na ilha indonésia de Celebes, distante 145km de
Flores.
Como os objetos eram anteriores à chegada do Homo
sapiens, sua autoria foi atribuída a alguma linhagem de hominídeos que,
por sua vez, teriam relação com os fundadores da estirpe dos hobbits. A
paleontóloga Aida Gómez-Robles, do Centro de Estudos Avançados de
Paleobiologia Humana da Universidade de Washington, levanta outra
teoria: os floresienses poderiam se derivar diretamente do gênero
australopiteco. “Mas esse modelo implica que hominídeos muito primitivos
tenham deixado a África por volta de 2 milhões de anos, mas não há
evidências fósseis ou arqueológicas dessa dispersão precoce”, observou,
em um texto publicado na Nature.
Fonte: http://www.correiobraziliense.com.br
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