quinta-feira, 2 de junho de 2016

O Retorno de Inanna - VII e VIII

V. S. Ferguson

O Retorno de Inanna 

Capitulos VII e VIII



VII.- ERESHKIGAL

Ereshkigal é minha meia irmã. Com uma esposa tão boa e bela como minha mãe, era de esperar-se que meu pai, Nannar, estivesse satisfeito. Mas a fidelidade não era o costume na família de Anu. Possivelmente era o contraste com minha mãe o que fazia que a mãe de Ereshkigal fora tão fascinante. A única palavra que escassamente descreve a sua espécie é Raksasas. Ela era metade serpente e metade demônio, muito atrativa, e de seu corpo saía e se retorcia o Kundalini. Sua pele era de um verde claro acobreado e seu cabelo formava o que se poderia chamar "cachos aterradores". Seu corpo era forte e sensual. Tinha os olhos de uma cobra com o poder para hipnotizar a Nannar. Como Deus da Lua, meu pai certamente tinha seu lado escuro.

A atração apaixonada entre eles dois somente poderia se definir como combustão espontânea. Ereshkigal era um autêntico broto de uma fusão erótica. A ninguém lhe ocorreu questionar sua beleza assombrosa. Ela herdou o melhor de seus pais, e ela sabia.

Não a culpo por não me haver querido. Acredito que de certo modo ela sentia por mim o que Enki sentia por Enlil. Eu era a filha legítima de Nannar e ela era o fruto da concubina. Além de estar cativado por sua beleza, Enki sentia certa simpatia por ela. Até chegaram a conceber um filho que se chamou Ningishzidda. Enki como de costume não pôde controlar-se e, como engenheiro chefe de minas, tinha dado a Ereshkigal o poder sobre o mundo subterrâneo. Enki se deixa convencer muito facilmente e eu gostaria de ver como Ereshkigal utilizava seus notáveis encantos sobre ele. Nós as garotas fazemos qualquer coisa para valermos neste mundo. Mas todo esse cabelo loiro era tão falso como todas as perucas que usava para realçar sua cabeleira!

O mundo subterrâneo não está exatamente debaixo, embora parte dele está. Está localizado no que agora chamam a África e os extensos depósitos de ouro que nós cobiçamos estão lá. Foi uma operação mineira enorme. Constantemente voavam as naves desde a Terra até à estação na órbita para entregar os metais refinados. Das profundidades da Terra tirávamos ouro e outros metais preciosos como prata, cobre, urânio e diamantes. Tinha que haver uma força de trabalho gigantesca e, com o passo dos séculos, procriaram-se homens e mulheres para que fossem operários mais eficientes. Nossos geneticistas constantemente melhoravam o aspecto de sua obediência e submissão. Não obstante, de vez em quando tinha que aplicar a disciplina.


Na Terra havia pelo menos três espécies que comiam carne humana, assim que os "come-carne" era uma ferramenta disciplinadora muito útil. Que melhor ameaça para um trabalhador resistente que a idéia de ser devorado vivo?

Olhem-no desde nosso ponto de vista: nós estávamos cumprindo com nosso dever. Tínhamos que subministrar partículas de ouro a nosso planeta Nibiru para nossa atmosfera esgotada, ou morreríamos todos. Fizemos todo o necessário para tirar o ouro das minas. Ereshkigal era a mais indicada para este trabalho; não lhe incomodava "motivar" aos operários com histórias de canibalismo. Dentro de si tinha um pouco dessa vocação de come-carne. Não é que comesse humanos todo o tempo; só uma dentada de vez em quando.

O canibalismo tem diferentes significados para diversas espécies. Um grupo poderia vê-lo como uma maneira de absorver a força, sabedoria e poder da pessoa que se come. Para eles, é um método ritual de aumentar sua consciência, assim como sua capacidade física e sexual. Quando ingerem a seu inimigo, obtêm a experiência de sua vida. Outros somente se comem o cérebro da vítima para obter sua inteligência. Em seu planeta ainda há vestígios disto.

Há outro tipo de canibalismo mais generalizado que é muito mais sutil. Há quem conhece a arte de devorar a energia das pessoas sem que elas saibam. Pensem como o temor os pode adoecer; quão rendido e desgastado se sente uma pessoa por causa da raiva, a cólera ou o ciúmes. Aonde vai essa energia? Por que se vêem tão cansados e pálidos aqueles que são viciados no álcool e nas drogas? Possivelmente aqueles que os controlam já não precisam comer sua carne.



Agora sabem de onde procedem essas histórias sobre pessoas que levam às Antípodas, assam-nas e as comem, os demônios! Para alguns era uma realidade. Mas não existem os demônios, somente várias espécies que os controlaram por meio do temor. Este é um universo de livre-arbítrio, o que quer dizer que são livres para fazer o que quiserem, e também o são outros seres. Esse é o problema. Se todos começarmos como iguais, como induzimos aos outros a que façam o que queremos que façam? Há alguma regra? Pode-se enganar a outros? Quem valoriza a quem e a que? Se te converter no tirano de outro, te devolve essa tirania? Bloqueia-te isto com o tempo? Essa é a pergunta mais interessante para nós agora que estamos apanhados pela Parede.

Eu não estava pensando em assuntos de metafísica quando descendia em minha nave para o mundo subterrâneo. Meu irmão Utu e meus pais opinaram que tinha que estar destrambelhada. Eles não pensavam que Ereshkigal receberia a sua meia irmã que acabava de enviuvar com os braços abertos, e me advertiram que não fosse. Mas eu tinha outras coisas em mente, como a dotação genética de seu marido Nergal, além de seus olhos azuis. Por direito, ele chegaria a ser meu marido e produziríamos herdeiros. Dizia-se que Ereshkigal tinha um palácio fabuloso, que estava todo talhado a ouro. Imagino que fazia falta todo esse esplendor para animar-se, pois o viver afastada da Suméria e Egito deve ter sido deprimente para ela.

À medida que me aproximava dos portões, abatia-me um pouco todo o ouro e as colunas de mármore que descreviam monstros serpentinos retorcendo-se e devorando Lulus mortos de pavor. Um pouco exagerado, pareceu-me. Mas isso era só o começo.

Tive a boa idéia de avisar a Ninshubar, minha criada, que me esperasse na nave. Disse-lhe que se não aparecesse em três dias, ela deveria voar a casa e procurar ajuda. Tinha prestado um pouco de atenção ao que disseram meus pais. Não obstante, eu estava confiante. Uma garota deve arriscar-se, deve ter coragem. Depois de tudo, tinha-me arriscado a conseguir os ME’s divinos. Eu sabia que podia ser muito persuasiva. Ereshkigal não saiu precisamente correndo para me saudar. De fato, não a via por nenhum lado. Apareceu um horrível guardião que disse que se chamava Neti. Meu deus, como ele era grande!

Disse a esse monstro quem era eu, e ele me guiou por um labirinto que tinha uma série de portões, o que deve ter sido um sistema de segurança desenhado para proteger o ouro de Ereshkigal. Logo este guardião ordenou a mim, Inanna, que tirasse todas as minhas jóias protetoras e minhas vestimentas. Todos nós usávamos uma variedade de aparelhos defensivos para nos proteger da radiação. Também levava comigo os utensílios de cabeça com reguladores de campo e sistemas de comunicação. Meu vestido tinha seu escudo de amparo estandard tecido dentro do tecido. Nunca se sabe o que se pode encontrar quando a gente voa pelo espaço, ou na Terra.

Ao chegar ao sétimo portão, me ordenou que tirasse o vestido. Não é que eu seja muito modesta, mas começava a chatear a forma como me estavam tratando. Além disso, eu queria saber aonde se estavam levando as jóias. Finalmente, entrei em um salão onde Ereshkigal celebrava uma audiência.
Era exatamente como me tinham contado; havia um estrado de ouro enorme e Ereshkigal estava sentada sobre um trono majestoso com diamantes incrustados. Embora eu estivesse nua, ia saudar com amabilidade, quando esses juízes com aspecto de ogros começaram a me lançar acusações de falsidade e traição. Era algo ridículo; não entendia do que estavam falando e tinha sede.
De repente, Ereshkigal tirou sua arma de plasma e em um momento me disparou uma boa dose de radiação, mais que suficiente para me matar. Eu estava assombrada! Rapidamente vi como eu flutuava por cima de meu precioso corpo, que rapidamente trocou de seu quente tom azul a um índigo morto!

Ereshkigal ordenou a seus guardas que pendurassem meu corpo na parede como se faz em um açougue. Vi como meu corpo se decompunha. Viajando em astral, segui a minha criada, Ninshubar, que ia voltando a Nippur, a cidade de meu avô, Enlil. Observei como ela entrava em seu templo e lhe suplicou que me salvasse. Ele se recusou! Disse que eu sabia muito bem o que aconteceria ali; todos sabiam que Ereshkigal me desprezava.

Então minha criada foi a meu pai, Nannar. Ele também disse que não! E eu segui flutuando no ar, escutando o sermão de meu pai: "é muito teimosa, todos sabíamos que só encontraria problemas ao ir procurar o marido de Ereshkigal". Até disse que me tinham dado meu castigo! Meu próprio pai! Talvez teria preferido um filho varão?

Eu ainda flutuava no ar, tratando de me acostumar a estar sem um corpo. Na mente de minha querida criada motivei um pensamento e velozmente ela foi ao Abzu de Enki. Já tinha uma história lacrimosa muito convincente preparada e, bendito seja Enki, decidiu intervir. Ele tinha algo de poder sobre Ereshkigal, pois tinha sido ele quem lhe tinha concedido o mundo subterrâneo. Fez acertos para que levassem meu corpo à Grande Pirâmide e, com a ajuda de Ninhursag, ressuscitou-me.



Durante três dias tive uma dor de cabeça horrível. Decidi nunca mais voltar a visitar essa bruxa e me esquecer do DNA de seu marido.
Estar separada de meu corpo não foi algo tão funesto, mas me levou a pensar quanto desfrutava de certas coisas, como dançar, ou inclusive comer. Tinha-me apegado muito a este corpo e a minha vida na Terra com os Lulus. O tempo que estive fora de meu corpo me fez querer muito mais a Terra. Também aprendi a não confiar em ninguém, exceto em mim mesma.
Decidi estender meus Templos do Amor à Índia meridional onde me tinham dado territórios que ninguém mais queria. Às bordas do rio Indo construí as cidades Mohenjo-Daro e Harappa.



VIII.- OS TEMPLOS DO AMOR

A desembocadura do rio Indo era o centro de comércio do Este naquela época. Pus todo meu empenho e os ME’s divinos para criar negócios e comércio entre a Suméria, Babilônia e Egito e o Vale do Indo. Eu gosto dos tesouros da Terra e tenho a habilidade para os negócios; sou uma comerciante inata. Meus templos eram escritórios de intercâmbio que serviam como lugares de troca e negócios com vários produtos, assim como de salões de aprendizagem e adoração.

Convidei a minha mãe, Ningal, para que me ajudasse a desenhar e construir os templos. Ela tem uma paixão pela arquitetura e trouxe consigo a sua boa amiga, Maia, a arquiteta mais famosa de nosso tempo, para planejar Mohenjo-Daro e Harapa. Maia já tinha desenhado outros templos na Suméria mas nós três queríamos superar as criações anterioresminha pele, mas não havia suficiente para construir todos os templos, por isso pedi a Enki que desenvolvesse um substituto em seus laboratórios. Em pouco tempo tinha mais que suficiente lápis, e cobri os pisos dos templos, as colunas e as telhas do teto com um novo lápis falso, que era meu presente de Enki. O mármore e o ouro se mesclaram elegantemente, com turquesa, malaquita e lápis em ritmos geométricos.

Também convidei a Tara para que me ajudasse nos templos. Tara é a esposa de meu amigo Matali, o piloto de Enki. Matali não agrada muito bem à minha família; suponho que nos conheceu como "deuses" a muito tempo. Ele prefere confiar no Povo da Serpente e por isso se casou com a Tara, sua bela princesa da raça serpente.

A linhagem da Tara é a mais antiga no planeta Terra. Matali diz que o Povo da Serpente é muito mais sábio que a de Nibiru. Ele me contou histórias fabulosas de seu reino que está nas profundezas do planeta. Diz que trabalham com freqüências que nós não entendemos. A aquisição do poder material não lhes interessa.

O que compreendi foi que Tara era a melhor bailarina que eu tinha visto. Eu sabia que seu estilo de balé atrairia os mercadores de todo o Este a meus templos. Ela seria uma pessoa muito útil, de modo que a convidei a treinar as bailarinas de meu templo. Tara é uma formosa mulher de pele cremosa verde pálido e olhos escuros doces de amêndoa que piscam como estrelas no céu noturno. Colares de pérolas negras e bolinhas de ouro cobriam seus firmes peitos nus. Minha amiga Tara me ajudou a instaurar uma cultura grandiosa e florescente.

Também convidei a Ninhursag. Ela estava dedicada completamente a administrar cura a seus queridos Lulus na pirâmide. Seu amor e sua compaixão por todos os seres viventes a converteram em nossa médica mais brilhante. Tinha um grupo de enfermeiras maravilhosas que lhe ajudavam, mas eu sabia que ela estava muito sozinha. Passava muito tempo com seu filho Ninurta, o que não era bom para nenhum dos dois. Conhecem o tipo de mãe que mexerica sem cessar com seu filho sobre o resto da família? Bom, assim era minha Nin.

Eu queria que Ninhursag fundasse o que vocês chamam hospitais, mas nós vemos sua medicina moderna como algo absolutamente barbárico. Nós usamos formas de pensamento e freqüências, não drogas ou bisturis. Ser a única matriarca solteira na Terra estava saindo caro a Nin, e eu a queria muito. Estava envelhecendo um pouco mas ela sempre o negava. Nin se apresentava mais competente e fresca que nunca, mas eu sabia a verdade. Eu mesma me sentia um pouco só e via com quanto coragem ela seguia adiante.

Ao observar a vida de Ninhursag, junto com minhas próprias experiências, comecei a sentir compreensão pela mulher. À medida que o tempo passava na Terra, os homens de minha família se tornavam mais e mais dominantes. Era como se a mesma atmosfera deste planeta remoto nos estivesse afetando a todos.

Nas Pleyades a mulher é respeitada como símbolo da grande Deusa e é tratada com consideração. Nossa lei proíbe estritamente golpear ou violar a uma mulher. As freqüências fronteiriças da Terra aparentemente produziram um giro desta tradição. Nossos homens estavam adotando uma atitude diferente com a mulher. Os filhos de Enki, guiados por Marduk, inventaram leis que proibiam às mulheres certas liberdades em seus territórios. É óbvio que eu estava zangada e transtornada por essas leis tão ridículas. Então, em minhas terras, eu enfatizava o fortalecimento e a melhora da energia feminina. Decidi ensinar aos Lulus alguns dos Mistérios Pleyadenses.


Quando Ninhursag e Enki criaram os Lulus, deixaram alguns componentes chaves inativos. Embora os Lulus e todos os humanos nascidos deles, incluindo os habitantes da Terra hoje, possuem nossos gens, alguns destes não funcionam, porque tinham sido desconectados de propósito. Aos Lulus foi ensinado a chamar a minha família de "divina", mas nós escassamente o fomos. Os filhos de Anu são os adolescentes eternos, e palavras como ambiciosos nos descreveriam com mais precisão. Intencionalmente tínhamos deixado os códigos genéticos de nossa raça trabalhadora parcialmente funcionando para que fossem mais dóceis. Eu sabia que não podia interferir no funcionamento do DNA dos Lulus, mas ninguém podia evitar que lhes ensinasse certos segredos. E como o pensamento cria a realidade, eu esperava que algumas de minhas sacerdotisas e sacerdotes pudessem acender os "gens divinos" que estão presentes em todos os Lulus e fomentar deste modo sua evolução latente por meio da secreção hormonal.

Na época atual o Samkhya é tudo o que fica da sabedoria pleyadense. Samkhya é uma palavra sânscrita que significa "enumerar". O conceito Samkhya sugere que a matéria está organizada a partir de dois componentes primários, Consciência e Energia que interagem para criar o universo.

É o pensamento focado conscientemente no que move as freqüências de energia para que se convertam a si mesmos no teatro de todos os mundos infinitos e inumeráveis. Os físicos em seu tempo presente se estão aproximando deste entendimento, mas os falta um componente e esse é o amor. Não a classe de amor que experimentaram como humanos — um pouco limitado e impossível de predizer —, a não ser o amor como uma força primária. A um cientista contemporâneo nunca lhe ocorreria medir um estado de consciência como o amor, mas esse é o segredo. O amor é a peça que falta em todas as teorias de campo unificado.


O amor do Primeiro Criador é a causa principal deste universo e de todas as outras realidades dimensionais que existem. Não dizem seus professores que o amor é a maior de todas as virtudes? Não obstante, é muito simples, muito óbvio para a maioria das pessoas.

De modo que ensinei este Samkhya em meus templos. Ensinei a minhas garotas e a alguns dos homens que queriam aprender a usar suas formosas mentes e corpos para trazer esta força, a força do amor divino, a Terra, a nossas cidades, nossos campos e a nossos filhos.

Foi uma época maravilhosa para todos nós. Os negócios prosperavam. Às mulheres lhes permitia ter suas propriedades e manter sua fortuna por separado se o queriam. Deste modo ninguém as escravizava. Ambos os sexos eram soberanos, e os homens eram igualmente felizes. Houve um florescimento da civilização e as artes. Nossos campos eram abundantes, o comércio com a Suméria e Egito gozava de prosperidade e as artes da dança, o canto, a pintura e a escultura estavam em todo seu apogeu. Os rumores das obras arquitetônicas de Maia se pulverizaram por todo mundo.

De todos os rituais iniciados em meus templos, o rito do matrimônio era o favorito. As sacerdotisas se vestiam e preparavam à noiva, que era educada nas artes de agradar a seu marido e em métodos de assegurar a concepção quando o desejasse. O marido também era preparado e instruído nestes assuntos. Nesses tempos era de conhecimento geral o fato de que o maior prazer se conseguia estimulando à fêmea ao ponto mais elevado do êxtase. A noiva se convertia no canal para toda a energia feminina na criação e o marido se convertia em toda a energia masculina. Essa união permitia que as forças do Primeiro Criador e da grande Deusa se expressassem na Terra.

O segredo desta união é a concentração. Nós treinávamos ao casal para que obtivesse uma concentração profunda olhando-se mutuamente aos olhos enquanto estavam realizando o ato. Cada célula do corpo, assim como toda a consciência do ser, deve estar ali nesse momento. Todo pensamento deve estar enfocado no agora. Uma mulher não pode obter estados elevados de conscientiza nesta união se está preocupada com a lista de legumes ou alguma outra tolice. Pensar no passado ou preocupar-se com o futuro somente debilita a experiência.

Receitávamos vinhos e elixires para aumentar a concentração daqueles que requeriam de ajuda, mas nossos melhores alunos não necessitavam nenhum tipo de ajuda exterior. As energias que eles emanavam reforçavam a fertilidade de nossa agricultura e a felicidade de nosso povo. Freqüentemente curavam aos doentes.

No Vale do Indo se amava e se venerava aos animais. Em nossas transações usávamos elefantes e bois. Chegamos a querê-los tanto que os venerávamos nos templos. Eu tinha lugares destinados para que os velhos se retirassem com segurança. Ali lhes amava e lhes protegia. Os meninos os visitavam com freqüência. Muitos dos Lulus ainda conservavam o dom de falar com os animais e lhes buscava para que treinassem aos elefantes, ao búfalo asiático, aos bois, leões, gazelas e toda classe de animais.
Até hoje meus olhos se enchem de lágrimas quando recordo a meus dois leões domésticos. Estas criaturas me amavam com todo seu coração e foram uma grande bênção para mim. A sabedoria que me ensinaram nunca me deixará. O macho me permitia montar sobre seu lombo pelas ruas e nunca me abandonava. A fêmea me cuidava com os instintos firmes de uma mãe. Estou segura de que nunca senti tanto amor e lealdade como os que eles me brindaram.

Depois de uns quantos centenas de seus anos, comecei a perder o encanto de estabelecer uma nova civilização no Vale do Indo. Os negócios estavam indo bem, os templos estavam construídos, e minhas sacerdotisas estavam tão bem treinadas que já podiam dirigir as coisas sem mim. Meu amigo Matali me levava com freqüência à cidade suméria de Uruk para controlar as entregas de grão e coisas assim. Sentia saudades da Suméria, Egito e o Abzu de Enki. Minhas cidades não eram tão sofisticadas; não tinha porto espacial com acesso à estação em órbita. Sentia-me como se estivesse estancada no interior do país.

Além disso, não tinha marido. Matali dizia que por sorte não estava casada com nenhum de meus parentes, pois ele não os tinha em muito alta estima!

Enquanto este dilema me deixava perplexa, me ocorreu uma magnífica idéia. Lá em Uruk, Anu estava outorgando os poderes de monarquia a alguns dos Lulus que mais sobressaíam na época. Anu lhes delegava um poder limitado a aqueles que governavam as cidades. Demos aos Lulus controle sobre os assuntos humanos que careciam de importância para nós.

A monarquia se estava convertendo em uma parte importante na nova vida da Terra. Por que não podia ser eu a encarregada de outorgar este poder? Se podia convencer a Anu de que eu podia substitui-lo, ele não teria que preocupar-se com tudo isso e teria mais tempo para si e para as festas de Antu. Eu sabia que Antu gostaria da idéia.

Antu sempre me tinha querido e eu tinha esculpido seu rosto nas estátuas das deusas de meus templos. O fato de ser a irmã de Anu lhe tinha outorgado um poder indisputável e tinha conexões políticas por toda a galáxia. A Antu nunca pareceu lhe incomodar o fluxo contínuo de concubinas de Anu. Eu sempre suspeitei que ela sabia inundar-se em estados de consciência enlevados. É uma dama tão feliz, cheia do que chamam hoje de vida!

Com o fim de convencer a Anu e a Antu de que eu era a pessoa indicada para escolher os reis, construí um templo em Uruk. O templo em si estava dedicado a Anu. Na parte interior, a área mais importante, coloquei uma cama de ouro sólido com o nome de Antu gravado visível e belamente sobre ela. A cama estava elevada sobre um estrado e estava soberbamente adornada com flores frescas e sedas flutuantes. Este templo em Uruk se chamava a Morada de Anu. Mas a cama que estava dentro do lugar sagrado mostrava a todos a que mulher escutava Anu. Que detalhe! Ambos adoraram! Quando lhes pedi que me concedessem o direito de outorgar a monarquia, ambos concordaram. Claro que eu devia informar a Anu sobre minhas decisões. Minha bisavó Antu estava feliz com as perspectivas de minha nova carreira. E que melhor maneira de encontrar um marido?





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