V. S. Ferguson
O Retorno de Inanna
Capitulos VII e VIII
VII.- ERESHKIGAL
Ereshkigal
é minha meia irmã. Com uma esposa tão boa e bela como minha mãe, era de
esperar-se que meu pai, Nannar, estivesse satisfeito. Mas a fidelidade não era
o costume na família de Anu. Possivelmente era o contraste com minha mãe o que
fazia que a mãe de Ereshkigal fora tão fascinante. A única palavra que
escassamente descreve a sua espécie é Raksasas. Ela era metade serpente e
metade demônio, muito atrativa, e de seu corpo saía e se retorcia o Kundalini.
Sua pele era de um verde claro acobreado e seu cabelo formava o que se poderia
chamar "cachos aterradores". Seu corpo era forte e sensual. Tinha os
olhos de uma cobra com o poder para hipnotizar a Nannar. Como Deus da Lua, meu
pai certamente tinha seu lado escuro.
A
atração apaixonada entre eles dois somente poderia se definir como combustão
espontânea. Ereshkigal era um autêntico broto de uma fusão erótica. A ninguém
lhe ocorreu questionar sua beleza assombrosa. Ela herdou o melhor de seus pais,
e ela sabia.
Não
a culpo por não me haver querido. Acredito que de certo modo ela sentia por mim
o que Enki sentia por Enlil. Eu era a filha legítima de Nannar e ela era o
fruto da concubina. Além de estar cativado por sua beleza, Enki sentia certa
simpatia por ela. Até chegaram a conceber um filho que se chamou Ningishzidda.
Enki como de costume não pôde controlar-se e, como engenheiro chefe de minas,
tinha dado a Ereshkigal o poder sobre o mundo subterrâneo. Enki se deixa
convencer muito facilmente e eu gostaria de ver como Ereshkigal utilizava seus
notáveis encantos sobre ele. Nós as garotas fazemos qualquer coisa para valermos
neste mundo. Mas todo esse cabelo loiro era tão falso como todas as perucas que
usava para realçar sua cabeleira!
O
mundo subterrâneo não está exatamente debaixo, embora parte dele está. Está
localizado no que agora chamam a África e os extensos depósitos de ouro que nós
cobiçamos estão lá. Foi uma operação mineira enorme. Constantemente voavam as
naves desde a Terra até à estação na órbita para entregar os metais refinados.
Das profundidades da Terra tirávamos ouro e outros metais preciosos como prata,
cobre, urânio e diamantes. Tinha que haver uma força de trabalho gigantesca e,
com o passo dos séculos, procriaram-se homens e mulheres para que fossem
operários mais eficientes. Nossos geneticistas constantemente melhoravam o aspecto
de sua obediência e submissão. Não obstante, de vez em quando tinha que aplicar
a disciplina.
Na
Terra havia pelo menos três espécies que comiam carne humana, assim que os
"come-carne" era uma ferramenta disciplinadora muito útil. Que melhor
ameaça para um trabalhador resistente que a idéia de ser devorado vivo?
Olhem-no
desde nosso ponto de vista: nós estávamos cumprindo com nosso dever. Tínhamos
que subministrar partículas de ouro a nosso planeta Nibiru para nossa atmosfera
esgotada, ou morreríamos todos. Fizemos todo o necessário para tirar o ouro das
minas. Ereshkigal era a mais indicada para este trabalho; não lhe incomodava
"motivar" aos operários com histórias de canibalismo. Dentro de si
tinha um pouco dessa vocação de come-carne. Não é que comesse humanos todo o
tempo; só uma dentada de vez em quando.
O
canibalismo tem diferentes significados para diversas espécies. Um grupo
poderia vê-lo como uma maneira de absorver a força, sabedoria e poder da pessoa
que se come. Para eles, é um método ritual de aumentar sua consciência, assim
como sua capacidade física e sexual. Quando ingerem a seu inimigo, obtêm a
experiência de sua vida. Outros somente se comem o cérebro da vítima para obter
sua inteligência. Em seu planeta ainda há vestígios disto.
Há
outro tipo de canibalismo mais generalizado que é muito mais sutil. Há quem
conhece a arte de devorar a energia das pessoas sem que elas saibam. Pensem
como o temor os pode adoecer; quão rendido e desgastado se sente uma pessoa por
causa da raiva, a cólera ou o ciúmes. Aonde vai essa energia? Por que se vêem
tão cansados e pálidos aqueles que são viciados no álcool e nas drogas?
Possivelmente aqueles que os controlam já não precisam comer sua carne.
Agora
sabem de onde procedem essas histórias sobre pessoas que levam às Antípodas,
assam-nas e as comem, os demônios! Para alguns era uma realidade. Mas não
existem os demônios, somente várias espécies que os controlaram por meio do
temor. Este é um universo de livre-arbítrio, o que quer dizer que são livres
para fazer o que quiserem, e também o são outros seres. Esse é o problema. Se
todos começarmos como iguais, como induzimos aos outros a que façam o que
queremos que façam? Há alguma regra? Pode-se enganar a outros? Quem valoriza a
quem e a que? Se te converter no tirano de outro, te devolve essa tirania?
Bloqueia-te isto com o tempo? Essa é a pergunta mais interessante para nós
agora que estamos apanhados pela Parede.
Eu
não estava pensando em assuntos de metafísica quando descendia em minha nave
para o mundo subterrâneo. Meu irmão Utu e meus pais opinaram que tinha que
estar destrambelhada. Eles não pensavam que Ereshkigal receberia a sua meia
irmã que acabava de enviuvar com os braços abertos, e me advertiram que não
fosse. Mas eu tinha outras coisas em mente, como a dotação genética de seu
marido Nergal, além de seus olhos azuis. Por direito, ele chegaria a ser meu
marido e produziríamos herdeiros. Dizia-se que Ereshkigal tinha um palácio fabuloso,
que estava todo talhado a ouro. Imagino que fazia falta todo esse esplendor
para animar-se, pois o viver afastada da Suméria e Egito deve ter sido
deprimente para ela.
À
medida que me aproximava dos portões, abatia-me um pouco todo o ouro e as
colunas de mármore que descreviam monstros serpentinos retorcendo-se e devorando
Lulus mortos de pavor. Um pouco exagerado, pareceu-me. Mas isso era só o
começo.
Tive
a boa idéia de avisar a Ninshubar, minha criada, que me esperasse na nave.
Disse-lhe que se não aparecesse em três dias, ela deveria voar a casa e procurar
ajuda. Tinha prestado um pouco de atenção ao que disseram meus pais. Não
obstante, eu estava confiante. Uma garota deve arriscar-se, deve ter coragem. Depois
de tudo, tinha-me arriscado a conseguir os ME’s divinos. Eu sabia que podia ser
muito persuasiva. Ereshkigal não saiu precisamente correndo para me saudar. De
fato, não a via por nenhum lado. Apareceu um horrível guardião que disse que se
chamava Neti. Meu deus, como ele era grande!
Disse
a esse monstro quem era eu, e ele me guiou por um labirinto que tinha uma série
de portões, o que deve ter sido um sistema de segurança desenhado para proteger
o ouro de Ereshkigal. Logo este guardião ordenou a mim, Inanna, que tirasse
todas as minhas jóias protetoras e minhas vestimentas. Todos nós usávamos uma
variedade de aparelhos defensivos para nos proteger da radiação. Também levava
comigo os utensílios de cabeça com reguladores de campo e sistemas de
comunicação. Meu vestido tinha seu escudo de amparo estandard tecido dentro do
tecido. Nunca se sabe o que se pode encontrar quando a gente voa pelo espaço,
ou na Terra.
Ao
chegar ao sétimo portão, me ordenou que tirasse o vestido. Não é que eu seja
muito modesta, mas começava a chatear a forma como me estavam tratando. Além
disso, eu queria saber aonde se estavam levando as jóias. Finalmente, entrei em
um salão onde Ereshkigal celebrava uma audiência.
Era
exatamente como me tinham contado; havia um estrado de ouro enorme e Ereshkigal
estava sentada sobre um trono majestoso com diamantes incrustados. Embora eu
estivesse nua, ia saudar com amabilidade, quando esses juízes com aspecto de
ogros começaram a me lançar acusações de falsidade e traição. Era algo
ridículo; não entendia do que estavam falando e tinha sede.
De
repente, Ereshkigal tirou sua arma de plasma e em um momento me disparou uma
boa dose de radiação, mais que suficiente para me matar. Eu estava assombrada!
Rapidamente vi como eu flutuava por cima de meu precioso corpo, que rapidamente
trocou de seu quente tom azul a um índigo morto!
Ereshkigal
ordenou a seus guardas que pendurassem meu corpo na parede como se faz em um
açougue. Vi como meu corpo se decompunha. Viajando em astral, segui a minha criada,
Ninshubar, que ia voltando a Nippur, a cidade de meu avô, Enlil. Observei como
ela entrava em seu templo e lhe suplicou que me salvasse. Ele se recusou! Disse
que eu sabia muito bem o que aconteceria ali; todos sabiam que Ereshkigal me
desprezava.
Então
minha criada foi a meu pai, Nannar. Ele também disse que não! E eu segui
flutuando no ar, escutando o sermão de meu pai: "é muito teimosa, todos
sabíamos que só encontraria problemas ao ir procurar o marido de
Ereshkigal". Até disse que me tinham dado meu castigo! Meu próprio pai!
Talvez teria preferido um filho varão?
Eu
ainda flutuava no ar, tratando de me acostumar a estar sem um corpo. Na mente
de minha querida criada motivei um pensamento e velozmente ela foi ao Abzu de
Enki. Já tinha uma história lacrimosa muito convincente preparada e, bendito
seja Enki, decidiu intervir. Ele tinha algo de poder sobre Ereshkigal, pois tinha
sido ele quem lhe tinha concedido o mundo subterrâneo. Fez acertos para que
levassem meu corpo à Grande Pirâmide e, com a ajuda de Ninhursag,
ressuscitou-me.
Durante
três dias tive uma dor de cabeça horrível. Decidi nunca mais voltar a visitar
essa bruxa e me esquecer do DNA de seu marido.
Estar
separada de meu corpo não foi algo tão funesto, mas me levou a pensar quanto
desfrutava de certas coisas, como dançar, ou inclusive comer. Tinha-me apegado
muito a este corpo e a minha vida na Terra com os Lulus. O tempo que estive
fora de meu corpo me fez querer muito mais a Terra. Também aprendi a não
confiar em ninguém, exceto em mim mesma.
Decidi
estender meus Templos do Amor à Índia meridional onde me tinham dado
territórios que ninguém mais queria. Às bordas do rio Indo construí as cidades
Mohenjo-Daro e Harappa.
VIII.- OS TEMPLOS DO
AMOR
A
desembocadura do rio Indo era o centro de comércio do Este naquela época. Pus
todo meu empenho e os ME’s divinos para criar negócios e comércio entre a Suméria,
Babilônia e Egito e o Vale do Indo. Eu gosto dos tesouros da Terra e tenho a
habilidade para os negócios; sou uma comerciante inata. Meus templos eram
escritórios de intercâmbio que serviam como lugares de troca e negócios com
vários produtos, assim como de salões de aprendizagem e adoração.
Convidei
a minha mãe, Ningal, para que me ajudasse a desenhar e construir os templos.
Ela tem uma paixão pela arquitetura e trouxe consigo a sua boa amiga, Maia, a
arquiteta mais famosa de nosso tempo, para planejar Mohenjo-Daro e Harapa. Maia
já tinha desenhado outros templos na Suméria mas nós três queríamos superar as
criações anterioresminha pele, mas não havia suficiente para construir todos os
templos, por isso pedi a Enki que desenvolvesse um substituto em seus
laboratórios. Em pouco tempo tinha mais que suficiente lápis, e cobri os pisos
dos templos, as colunas e as telhas do teto com um novo lápis falso, que era
meu presente de Enki. O mármore e o ouro se mesclaram elegantemente, com
turquesa, malaquita e lápis em ritmos geométricos.
Também
convidei a Tara para que me ajudasse nos templos. Tara é a esposa de meu amigo
Matali, o piloto de Enki. Matali não agrada muito bem à minha família; suponho
que nos conheceu como "deuses" a muito tempo. Ele prefere confiar no
Povo da Serpente e por isso se casou com a Tara, sua bela princesa da raça
serpente.
A
linhagem da Tara é a mais antiga no planeta Terra. Matali diz que o Povo da
Serpente é muito mais sábio que a de Nibiru. Ele me contou histórias fabulosas
de seu reino que está nas profundezas do planeta. Diz que trabalham com
freqüências que nós não entendemos. A aquisição do poder material não lhes
interessa.
O
que compreendi foi que Tara era a melhor bailarina que eu tinha visto. Eu sabia
que seu estilo de balé atrairia os mercadores de todo o Este a meus templos.
Ela seria uma pessoa muito útil, de modo que a convidei a treinar as bailarinas
de meu templo. Tara é uma formosa mulher de pele cremosa verde pálido e olhos
escuros doces de amêndoa que piscam como estrelas no céu noturno. Colares de
pérolas negras e bolinhas de ouro cobriam seus firmes peitos nus. Minha amiga
Tara me ajudou a instaurar uma cultura grandiosa e florescente.
Também
convidei a Ninhursag. Ela estava dedicada completamente a administrar cura a
seus queridos Lulus na pirâmide. Seu amor e sua compaixão por todos os seres
viventes a converteram em nossa médica mais brilhante. Tinha um grupo de
enfermeiras maravilhosas que lhe ajudavam, mas eu sabia que ela estava muito
sozinha. Passava muito tempo com seu filho Ninurta, o que não era bom para
nenhum dos dois. Conhecem o tipo de mãe que mexerica sem cessar com seu filho
sobre o resto da família? Bom, assim era minha Nin.
Eu
queria que Ninhursag fundasse o que vocês chamam hospitais, mas nós vemos sua
medicina moderna como algo absolutamente barbárico. Nós usamos formas de
pensamento e freqüências, não drogas ou bisturis. Ser a única matriarca
solteira na Terra estava saindo caro a Nin, e eu a queria muito. Estava
envelhecendo um pouco mas ela sempre o negava. Nin se apresentava mais
competente e fresca que nunca, mas eu sabia a verdade. Eu mesma me sentia um
pouco só e via com quanto coragem ela seguia adiante.
Ao
observar a vida de Ninhursag, junto com minhas próprias experiências, comecei a
sentir compreensão pela mulher. À medida que o tempo passava na Terra, os
homens de minha família se tornavam mais e mais dominantes. Era como se a mesma
atmosfera deste planeta remoto nos estivesse afetando a todos.
Nas
Pleyades a mulher é respeitada como símbolo da grande Deusa e é tratada com
consideração. Nossa lei proíbe estritamente golpear ou violar a uma mulher. As
freqüências fronteiriças da Terra aparentemente produziram um giro desta
tradição. Nossos homens estavam adotando uma atitude diferente com a mulher. Os
filhos de Enki, guiados por Marduk, inventaram leis que proibiam às mulheres certas
liberdades em seus territórios. É óbvio que eu estava zangada e transtornada
por essas leis tão ridículas. Então, em minhas terras, eu enfatizava o
fortalecimento e a melhora da energia feminina. Decidi ensinar aos Lulus alguns
dos Mistérios Pleyadenses.
Quando
Ninhursag e Enki criaram os Lulus, deixaram alguns componentes chaves inativos.
Embora os Lulus e todos os humanos nascidos deles, incluindo os habitantes da
Terra hoje, possuem nossos gens, alguns destes não funcionam, porque tinham
sido desconectados de propósito. Aos Lulus foi ensinado a chamar a minha
família de "divina", mas nós escassamente o fomos. Os filhos de Anu
são os adolescentes eternos, e palavras como ambiciosos nos descreveriam com
mais precisão. Intencionalmente tínhamos deixado os códigos genéticos de nossa
raça trabalhadora parcialmente funcionando para que fossem mais dóceis. Eu
sabia que não podia interferir no funcionamento do DNA dos Lulus, mas ninguém
podia evitar que lhes ensinasse certos segredos. E como o pensamento cria a
realidade, eu esperava que algumas de minhas sacerdotisas e sacerdotes pudessem
acender os "gens divinos" que estão presentes em todos os Lulus e
fomentar deste modo sua evolução latente por meio da secreção hormonal.
Na
época atual o Samkhya é tudo o que fica da sabedoria pleyadense. Samkhya é uma
palavra sânscrita que significa "enumerar". O conceito Samkhya sugere
que a matéria está organizada a partir de dois componentes primários, Consciência
e Energia que interagem para criar o universo.
É
o pensamento focado conscientemente no que move as freqüências de energia para
que se convertam a si mesmos no teatro de todos os mundos infinitos e
inumeráveis. Os físicos em seu tempo presente se estão aproximando deste
entendimento, mas os falta um componente e esse é o amor. Não a classe de amor
que experimentaram como humanos — um pouco limitado e impossível de predizer —,
a não ser o amor como uma força primária. A um cientista contemporâneo nunca
lhe ocorreria medir um estado de consciência como o amor, mas esse é o segredo.
O amor é a peça que falta em todas as teorias de campo unificado.
O
amor do Primeiro Criador é a causa principal deste universo e de todas as
outras realidades dimensionais que existem. Não dizem seus professores que o
amor é a maior de todas as virtudes? Não obstante, é muito simples, muito óbvio
para a maioria das pessoas.
De
modo que ensinei este Samkhya em meus templos. Ensinei a minhas garotas e a
alguns dos homens que queriam aprender a usar suas formosas mentes e corpos
para trazer esta força, a força do amor divino, a Terra, a nossas cidades,
nossos campos e a nossos filhos.
Foi
uma época maravilhosa para todos nós. Os negócios prosperavam. Às mulheres lhes
permitia ter suas propriedades e manter sua fortuna por separado se o queriam.
Deste modo ninguém as escravizava. Ambos os sexos eram soberanos, e os homens
eram igualmente felizes. Houve um florescimento da civilização e as artes.
Nossos campos eram abundantes, o comércio com a Suméria e Egito gozava de
prosperidade e as artes da dança, o canto, a pintura e a escultura estavam em
todo seu apogeu. Os rumores das obras arquitetônicas de Maia se pulverizaram
por todo mundo.
De
todos os rituais iniciados em meus templos, o rito do matrimônio era o
favorito. As sacerdotisas se vestiam e preparavam à noiva, que era educada nas
artes de agradar a seu marido e em métodos de assegurar a concepção quando o
desejasse. O marido também era preparado e instruído nestes assuntos. Nesses
tempos era de conhecimento geral o fato de que o maior prazer se conseguia
estimulando à fêmea ao ponto mais elevado do êxtase. A noiva se convertia no
canal para toda a energia feminina na criação e o marido se convertia em toda a
energia masculina. Essa união permitia que as forças do Primeiro Criador e da
grande Deusa se expressassem na Terra.
O
segredo desta união é a concentração. Nós treinávamos ao casal para que
obtivesse uma concentração profunda olhando-se mutuamente aos olhos enquanto
estavam realizando o ato. Cada célula do corpo, assim como toda a consciência
do ser, deve estar ali nesse momento. Todo pensamento deve estar enfocado no
agora. Uma mulher não pode obter estados elevados de conscientiza nesta união
se está preocupada com a lista de legumes ou alguma outra tolice. Pensar no
passado ou preocupar-se com o futuro somente debilita a experiência.
Receitávamos
vinhos e elixires para aumentar a concentração daqueles que requeriam de ajuda,
mas nossos melhores alunos não necessitavam nenhum tipo de ajuda exterior. As
energias que eles emanavam reforçavam a fertilidade de nossa agricultura e a
felicidade de nosso povo. Freqüentemente curavam aos doentes.
No
Vale do Indo se amava e se venerava aos animais. Em nossas transações usávamos
elefantes e bois. Chegamos a querê-los tanto que os venerávamos nos templos. Eu
tinha lugares destinados para que os velhos se retirassem com segurança. Ali
lhes amava e lhes protegia. Os meninos os visitavam com freqüência. Muitos dos
Lulus ainda conservavam o dom de falar com os animais e lhes buscava para que
treinassem aos elefantes, ao búfalo asiático, aos bois, leões, gazelas e toda
classe de animais.
Até
hoje meus olhos se enchem de lágrimas quando recordo a meus dois leões
domésticos. Estas criaturas me amavam com todo seu coração e foram uma grande
bênção para mim. A sabedoria que me ensinaram nunca me deixará. O macho me
permitia montar sobre seu lombo pelas ruas e nunca me abandonava. A fêmea me
cuidava com os instintos firmes de uma mãe. Estou segura de que nunca senti
tanto amor e lealdade como os que eles me brindaram.
Depois
de uns quantos centenas de seus anos, comecei a perder o encanto de estabelecer
uma nova civilização no Vale do Indo. Os negócios estavam indo bem, os templos
estavam construídos, e minhas sacerdotisas estavam tão bem treinadas que já
podiam dirigir as coisas sem mim. Meu amigo Matali me levava com freqüência à
cidade suméria de Uruk para controlar as entregas de grão e coisas assim.
Sentia saudades da Suméria, Egito e o Abzu de Enki. Minhas cidades não eram tão
sofisticadas; não tinha porto espacial com acesso à estação em órbita.
Sentia-me como se estivesse estancada no interior do país.
Além
disso, não tinha marido. Matali dizia que por sorte não estava casada com
nenhum de meus parentes, pois ele não os tinha em muito alta estima!
Enquanto
este dilema me deixava perplexa, me ocorreu uma magnífica idéia. Lá em Uruk,
Anu estava outorgando os poderes de monarquia a alguns dos Lulus que mais
sobressaíam na época. Anu lhes delegava um poder limitado a aqueles que
governavam as cidades. Demos aos Lulus controle sobre os assuntos humanos que
careciam de importância para nós.
A
monarquia se estava convertendo em uma parte importante na nova vida da Terra.
Por que não podia ser eu a encarregada de outorgar este poder? Se podia
convencer a Anu de que eu podia substitui-lo, ele não teria que preocupar-se
com tudo isso e teria mais tempo para si e para as festas de Antu. Eu sabia que
Antu gostaria da idéia.
Antu
sempre me tinha querido e eu tinha esculpido seu rosto nas estátuas das deusas
de meus templos. O fato de ser a irmã de Anu lhe tinha outorgado um poder
indisputável e tinha conexões políticas por toda a galáxia. A Antu nunca
pareceu lhe incomodar o fluxo contínuo de concubinas de Anu. Eu sempre
suspeitei que ela sabia inundar-se em estados de consciência enlevados. É uma
dama tão feliz, cheia do que chamam hoje de vida!
Com
o fim de convencer a Anu e a Antu de que eu era a pessoa indicada para escolher
os reis, construí um templo em
Uruk. O templo em si estava dedicado a Anu. Na parte
interior, a área mais importante, coloquei uma cama de ouro sólido com o nome
de Antu gravado visível e belamente sobre ela. A cama estava elevada sobre um
estrado e estava soberbamente adornada com flores frescas e sedas flutuantes.
Este templo em Uruk se chamava a Morada de Anu. Mas a cama que estava dentro do
lugar sagrado mostrava a todos a que mulher escutava Anu. Que detalhe! Ambos
adoraram! Quando lhes pedi que me concedessem o direito de outorgar a
monarquia, ambos concordaram. Claro que eu devia informar a Anu sobre minhas
decisões. Minha bisavó Antu estava feliz com as perspectivas de minha nova
carreira. E que melhor maneira de encontrar um marido?
Nenhum comentário:
Postar um comentário